Países islâmicos apoiam monetariamente os locais de culto
FINANÇAS Governos e/ ou empresários da Arábia Saudita, da Turquia, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos também dão contributos A Mesquita Central de Lisboa era um sonho da comunidade islâmica em Portugal, mas sobretudo de Abdool Vakil. Estudava Finanças no Instituto Superior de Economia e Gestão e, quando chegaram mais estudantes, formaram a Comunidade Islâmica de Lisboa, em 1968, que ainda hoje preside. Dez anos depois obtiveram a concessão de um terreno por 99 anos e o apoio da Arábia Saudita, do príncipe Salman, que é atualmente o rei, o equivalente a um milhão de euros. “Foi um donativo muito importante, mas também tivemos apoios de outros países, nomeadamente da Turquia”, explica Abdool Vakil.
Também receberam dinheiro de autoridades portuguesas e comunitárias, estes através da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento de Lisboa e Vale do Tejo. Foi inaugurada em maio de 1984 e ainda falta acabar o último de três pisos, onde se prevê a instalação de um auditório. “Quero finalizar a construção, deixar tudo feito, para me ir embora. Há 47 anos que presido a Comunidade Islâmica de Lisboa, é mais do que tempo suficiente”, diz Abdool Vakil.
Ainda este mês, o primeiro- ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, esteve em Lisboa para a 1. ª Cimeira Portugal- Turquia acompanhado de empresários que prometeram ajudar a terminar a obra da Mesquita Central.
A Embaixada do Reino da Arábia Saudita não confirma, mas tem sido um apoio fundamental na construção de mesquitas na Europa, nomeadamente em Portugal. E há a promessa de ajuda financeira ao Centro Cultural Islâmico do Porto quando encontrarem um terreno para a construção de uma mesquita no Norte do país. Mas também a Turquia, além dos Emirados Árabes Unidos e do Qatar, apurou o DN. E houve tempos em que eram grandes as contribuições da Líbia e do Egito. Hoje todos têm representação diplomática no país, mas, quando isso não acontecia, Madrid era o ponto de contacto. Dinheiros que as embaixadas não reconhecem doar, sublinhando que o apoio é do governo e não da representação diplomática. Ou que são empresários dos países de origem, residentes e imigrantes, que ajudam na construção.
Rana Uddin, o presidente da Comunidade Islâmica do Bangladesh, refere que as embaixadas estão limitadas no investimento direto em locais de culto. “Tiveram muitas restrições depois dos incidentes de 11 de setembro de 2001. Existem muitas formalidades e muitas embaixadas não querem passar por isso”, justifica.
O DN contactou as embaixadas em Portugal com uma população maioritariamente muçulmana e apenas a da Turquia reconheceu o apoio do seu governo à construção da Mesquita Central de Lisboa. Salientaram, no entanto, que esse financiamento não passou pelos seus serviços. As outras ou não responderam ou frisaram não ser essa a sua missão.
“A embaixada não tem previstos apoios para os imigrantes ou para as atividades religiosas. A nossa missão é a área consular ( vistos, por exemplo), nas relações diplomáticas e nas transações comerciais. Estamos a trabalhar no sentido de aprofundar a nossa relação com Portugal e melhorar a relação das pessoas do Bangladesh com os portugueses”, diz Mohammed Khaled, primeiro secretário da Embaixada da República do Bangladesh, com espaço próprio no país apenas desde julho de 2012. Acrescenta: “As embaixadas não têm dinheiro para construir diretamente as mesquitas, mas podem ajudar a encontrar apoios financeiros. E os imigrantes podem pedir apoios financeiros, nomeadamente junto das autoridades e patrocinadores.”
A maioria dos 54 locais de culto islâmico que se estima existirem em Portugal [ a Mesquita Central de Lisboa indica 17 mesquitas e 28 locais de culto] localizam- se em prédios ou em garagens e mais não são do que salas adaptadas à religião do islão. Muitos destes espaços foram comprados, como a Mesquita Baitul Mukarram ( Martim Moniz), por 240 mil euros, ou doados, como a Mesquita Aisha Siddika de Odivelas. E contam com os donativos dos crentes.