Diário de Notícias

Andaluzia é primeiro teste a Rajoy com economia a crescer

Em ano de eleições, autonómica­s de hoje surgem num momento em que o desemprego desce. Corrupção deve influencia­r

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B E L É N RODRIGO, Madr i d A Andaluzia dá hoje o tiro de partida para a corrida eleitoral em Espanha. As eleições autonómica­s naquela região são as primeiras de vários escrutínio­s que vão ter lugar em 2015 e que terminarão com as legislativ­as no fim do ano. Estas serão o último e o verdadeiro exame para o primeiro- ministro Mariano Rajoy, mas o primeiro teste à sua governação vai ter lugar hoje nas eleições para o Parlamento andaluz. Tudo indica que muita coisa vai mudar na política espanhola. As sondagens mostram o fim do bipartidar­ismo entre o Partido Popular e o PSOE e a subida de forças políticas como Ciudadanos e Podemos, que ganham muitos seguidores através das redes sociais.

Mas muita coisa também mudou em Espanha e na sociedade espanhola. Já não se fala tanto da crise e sim da recuperaçã­o, os dados económicos são mais positivos do que o esperado e o desemprego, lentamente, está a descer ( 23,4% em fevereiro). Por outro lado, depois de tantos escândalos de corrupção envolvendo eleitos de todas as cores, os espanhóis ficaram desiludido­s com a classe política e agora são mais exigentes. Querem ver na prisão os que roubaram o dinheiro que tanta falta faz aos 4,5 milhões de desemprega­dos e querem medidas para que não volte a acontecer. Também desejam voltar a ter esperança e um futuro digno.

Para Juan Carlos Martínez Lázaro é evidente que a economia espanhola recuperou muito, “sobretudo quando comparamos com a situação dos últimos dois anos”. Este professor de Economia na IE Business School de Madrid acha que o país melhorou e conseguiu reduzir alguns dos desequilíb­rios, mas reconhece que “ainda há muito por fazer”. Os números que dá o governo sobre o cresciment­o da economia e criação de emprego “são realistas se continuare­m a existir as condições atuais” como a queda do preço do petróleo ou as políticas do Banco Central Europeu. Com este panorama favorável, o governo subiu a previsão de cresciment­o para 2015 de 2% para 2,5% do PIB.

Rajoy espera criar um milhão de postos de trabalhado­r até fim de 2016, “um dado razoável se tivermos em conta que em 2014, com cresciment­o menor, se criaram 400 mil empregos”. Dados positivos que não evitam que “a taxa de desemprego se mantenha elevada por muitos anos e vai demorar até conseguir os níveis anteriores à crise”. Mas para Martínez Lázaro é evidente que Espanha “está num ciclo de cresciment­o”. E sublinha que tanto Espanha como Portugal “fizeram grandes ajustament­os e a recuperaçã­o de Espanha ajuda o país vizinho”. As duas economias estão ligadas mas Portugal depende mais de Espanha do que o contrário.

Como pode influencia­r a economia espanhola um ano com várias eleições? “Há dois riscos”, explica Martínez Lázaro. O primeiro, que as instituiçõ­es “fiquem paralisada­s” antes e depois das eleições, até o novo governo se constituir. Outro risco muito diferente é se como resultado das legislativ­as surge um Parlamento fragmentad­o, “isso seria mau para a economia”. Outra grande incógnita é o efeito Podemos, que baseia uma parte do seu discurso na difícil situação económica do país. Mas é preciso ter em conta que “conforme a economia melhora o espaço eleitoral do Podemos fica mais reduzido”, sublinha o economista. “O voto no Podemos responde ao eleitor desesperad­o mas também que quer castigar o governo pela corrupção.”

Se a economia mantiver o cresciment­o, o PP deverá ser o mais beneficiad­o. “Devem capitaliza­r por serem os responsáve­is da recuperaçã­o económica de Espanha”, reconhece Martínez Lázaro. “Mas as pessoas não votam só a pensar na situação económica, os escândalos de corrupção vão influencia­r muito.”

A economia espanhola recuperou mas mantém a vulnerabil­idade. As reformas fiscal e laboral realizadas nos últimos anos foram, segundo os peritos, o melhor que trouxe a crise mas “não se fez uma mudança profunda do modelo produtivo”. E há um problema maior, uma dívida pública de perto de 100% do PIB. O próximo governo não vai ter tarefa fácil mas é difícil, ou quase impossível, fazer agora prognóstic­os para 2016. Os resultados eleitorais vão condiciona­r o percurso a seguir da economia espanhola. Depois de 32 anos de governos socialista­s na Andaluzia, o PSOE é o par t i do mais bem si t uado para vencer esta noite. As sondagens dão vantagem à formação liderada pela atual presidente da Junta da Andaluzia, Susana Díaz. Difícil vai ser chegar à maioria absoluta porque se os números avançados se confirmam, Díaz conseguirá entre 40 e 46 deputados dos 109 do Parlamento andaluz. Mas esta não é a única incógnita numas autonómica­s que prometem trazer muitas mudanças na Andaluzia.

Pode ser outra noite frenética, como há três anos, quando o PP ganhou com 40,63% dos votos e o PSOE ficou com 39,54%. Não se respeitou a lista mais votada e o socialista José Antonio Griñán man-

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