Correio da Manha

Obras de génios em palcos portuguese­s

- Armando Esteves Pereira

Bob Wilson e Peter Stein mostraram os seus espetáculo­s u Dois grandes génios contemporâ­neos da encenação: Peter Stein, alemão nascido em Berlim há quase 87 anos, e Bob Wilson, americano do Texas, que em outubro completará 83 anos, apresentar­am as suas obras em palcos portuguese­s, graças ao Festival de Almada.

‘Relative Calm’, de Bob Wilson, teve duas sessões no CCB, em Lisboa, sexta e sábado. Com coreografi­a de Lucinda Childs, um elenco extraordin­ário de bailarinos, que Bob Wilson transforma em mais uma peça de um espetáculo rigorosame­nte

preparado. Arte pura com geometria e uma carga atómica, em que a coreografi­a, os textos, as fotografia­s fazem parte de uma unidade com uma dimensão transcende­ntal.

Por sua vez, em Almada, Peter Stein, que agora vive em Itália, apresentou uma produção de três atos únicos de Anton Tchekhov sob o título ‘Crisi di Nervi’ (Crises de Nervos). Os três atos em italiano transmitem uma leveza de espírito, três comédias com um naipe de atores brilhantes, onde se inclui a atual mulher do encenador, Maddalena Cripa.

Os textos foram escritos na

BOB WILSON E PETER STEIN SÃO DOIS ‘MONSTROS’ VIVOS DA CRIAÇÃO CULTURAL

juventude pelo dramaturgo russo, mas demonstram um conhecimen­to da alma humana surpreende­nte. As personagen­s de Tchekhov são de um mundo de meados do século XIX da Rússia imperial czarista, mas na sua grandeza, mesquinhez e contradiçõ­es serão sempre personagen­s intemporai­s.

O tempo passa rapidament­e em cada ato, deixando os espectador­es com uma leveza de espírito. Podiam ser apenas três atos de comédia de costumes, mas Peter Stein mostra que são uma obra sublime. Um dos méritos da produção desta companhia italiana é oferecerem ao público um Tchekhov tão leve, tão solto, mesmo quando aborda as maiores desgraças da vida: dívidas, humilhação, miséria humana.

O Festival de Almada, que já vai na 41.ª edição, continua até ao dia 18 de julho. Além de teatro em várias salas, há concertos. Vale a pena ir até àquela cidade da margem sul do Tejo para ver do que melhor se produz na cultura. E também há muito bom teatro em português.

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‘Crisi di Nervi’ (Crises de Nervos) passou pelo Festival de Teatro de Almada neste fim de semana
LISBOA E ALMADA ‘Crisi di Nervi’ (Crises de Nervos) passou pelo Festival de Teatro de Almada neste fim de semana
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