Correio da Manha

Envenena pais para “matar o diabo”

PJ Detido filho que durante meses envenenou com adubos agrícolas a comida do pai e da mãe - a mando de bruxa que lhe disse que vítimas tinham o diabo no corpo ª PRISÃO Para já vai para a cadeia. Foi apanhado quando teve alta de hospital psiquiátri­co

- Tânia Laranjo

u Tem 43 anos e um passado de descompens­ação psiquiátri­ca. Em diversos momentos agrediu os pais, insultou-os, provocou-lhes mazelas no corpo e na alma. Nunca se queixaram, calaram anos a violência até que, em março, acabaram ambos no hospital. Primeiro a mãe, que apresentav­a hemorragia­s no nariz e a na boca, depois o pai, que também tinha os mesmos sintomas de envenename­nto.

Foi a irmã do suspeito que descobriu tudo. Encaminhou o casal para uma unidade de saúde na região Centro - que lhes salvou a vida -, depois obrigou o irmão a contar o que tinha acontecido. Ele revelou que há meses que envenenava a comida dos progenitor­es, utilizando adubos agrícolas. O homem confessou ainda que tinha ido à bruxa - decidiu por mote próprio deixar os comprimido­s que o acompanhar­am toda a vida e dedicou-se a recorrer a espíritos. E a bruxa disse-lhe que os pais tinham o diabo no corpo. Que tinha de os salvar. O homem decidiu atuar.

Durante meses tentou “matar o diabo”, dando comida envenenada aos pais. Quase os matou a eles, mas quando confessou e percebeu a gravidade dos seus atos foi-se também ele abaixo psicologic­amente.

Internado numa unidade psiquiátri­ca, o homem, que mora numa aldeia do Sabugal, distrito da Guarda, teve alta na manhã de terça-feira e foi de imediato detido pelos inspetores da Polícia Judiciária da Guarda. Levado ao juiz, ficou em prisão preventiva, por o tribunal ter entendido que havia risco de fuga e de continuaçã­o da atividade criminosa. Os pais já tinham tido alta e o suspeito não podia partilhar com eles a casa.

O magistrado admitiu mesmo assim que o homem possa ser dentro de dias transferid­o para um hospital-prisão. Terá muito provavelme­nte de receber apoio médico, regressar ao acompanham­ento e à medicação. Só depois é que serão feitos exames para apurar se é ou não imputável - se tem capacidade para distinguir o bem do mal e se pode ser julgado. Estes exames só deverão ser depois apreciados durante a fase de julgamento.

À luz da nova Lei de Saúde Mental, o homem nunca poderá ser condenado a um internamen­to superior à pena de cadeia que em abstrato incorre - neste caso, o limite máximo é de 16 anos, por o crime ser homicídio tentado.

VÍTIMAS ESTIVERAM INTERNADAS, MAS RECUPERARA­M. FILHO FICOU EM PREVENTIVA

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PJ da Guarda foi avisada para o caso e deteve o homem assim que ele teve alta do hospital
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