“Foi o amor que me fez deixar as cidades”
Cantor edita novo trabalho conceptual que versa sobre uma parte da sua história de vida
Marcou os anos 80 com as músicas `Não Há Nada P'ra Ninguém' e `Não Te Cuides Não'. Nos anos de 1990, primeiro a tropa e depois uma aventura de dois anos pelos Estados Unidos fizeram travar uma carreira que estava em ascensão.
“Quando voltei o mundo tinha mudado. E desde aí tem sido uma luta sem tréguas”, recorda hoje, aos 63 anos, Mário Mata, um músico que nunca deixou de andar pelos caminhos da música, que nunca deixou de lançar discos, mas que nunca mais recuperou a popularidade perdida. “Há uns amigos que uma vez me disseram que nunca perceberam porque é que eu levei um apagão na minha carreira.” Ainda assim garante:
“Eu compenso isso continuando a compor e a escrever.” E é fiel a si próprio, que regressa agora com novo disco, `A Grande Cidade', um trabalho conceptual em que conta a história de uma boa parte da sua vida, quando em 2006 decidiu despedir-se do reboliço e da azáfama de Lisboa para ir viver para Penela, Coimbra. “Na verdade, foi o amor que me fez mudar. A minha mulher é de
Penela, e a determinada altura eu decidi que estava na hora de deixar as cidades. Aqui tenho mais espaço e mais tempo para poder trabalhar. Estou mais recatado. Já tive a minha dose de Lisboa e de cidades”, diz ao Correio da Manhã.
Mantendo a escrita que sempre o caracterizou, resolveu agora também deixar as guitarras para trás e abraçar uma nova sonoridade mais assente nos pianos. “É uma nova aposta na estética. Nunca é tarde para se fazer experiências”, refere Mário Mata, que já foi professor de música, que trabalhou no famoso presépio de Penela (construiu os bonecos), que
NOS ANOS 1990 PARTIU PARA UMA AVENTURA NOS EUA QUE LHE TRAVOU A CARREIRA
há vários anos a esta parte tem tocado nas digressões de José Cid, e que continua a fazer os seus concertos. Neles, há uma música que nunca pode faltar, `Não Há P'ra Ninguém', a “única música de intervenção que escreveu”, um tema sobre Lagos (onde vivia), quando ainda “nem sonhava em ser músico” e que lhe trouxe problemas na tropa. “Foi por causa do verso que falava sobre o `parque de campismo... para os senhores militares'. Diziam-me eles que eu não podia ofender a instituição à qual pertencia.”