Correio da Manha

“São já 25 anos de sofrimento, não estou em paz”

DESESPERO Ficou viúva em 1998 e teve de criar sozinha os três filhos, dois deles eram menores na altura ª DRAMA Empreiteir­o punido a pagar à família 55 mil €, mas declarou falência e Alzira não recebeu nada

- Nelson Rodrigues

1Alzira u São já 25 anos de espera. Alzira Ferreira ficou viúva em abril de 1998. Nunca tinha trabalhado, pois o marido, João, de 40 anos, era o único sustento da família. Ficou sozinha com três filhos, dois deles menores – a filha mais nova tinha apenas 4 anos quando o pai morreu. Em 2007, o empreiteir­o, responsáve­l da obra onde o trabalhado­r morreu soterrado, na Covilhã, foi punido a pagar 55 mil € à família. Mas declarou insolvênci­a e Alzira e os filhos não receberam um único cêntimo.

“São 25 anos de sofrimento. Enquanto isto não for resolvido eu não consigo estar em paz. Podem-me censurar. Fiquei sem ele, fiquei sem nada. Criei os meus filhos sozinha. Um deles teve de deixar de trabalhar para me ajudar. Outro teve de emigrar”, desabafa a viúva, que reside na Maia. “Ele era o meu pilar. Os meus filhos sofreram muito com toda esta situação. Isto é um grande peso, que não consigo esquecer”, diz ainda, visivelmen­te consternad­a.

Sem receber a indemnizaç­ão, Alzira viu ainda o Estado penhorar os seus dois filhos mais velhos para pagar as custas do pedido inicial, que era de 350 mil euros. “Entraram dois agentes na minha casa para penhorar os meus filhos. Como eles não tinham como pagar, foi-lhes penhorada uma moto velha, que era do meu falecido marido, que ficou de herança. Ficaram com os documentos da moto e eles tiveram de pagar 100 € por mês durante vários anos”, contou Alzira. Na altura, nada foi penhorado à viúva, por estar desemprega­da, nem à filha mais nova, por ser menor. A penhora ocorreu pois as custas sobre indemnizaç­ões são calculadas pelo valor do pedido inicial.

Alzira e João Ferreira casaram em 1976. A viúva não se conforma. “A minha filha dizia que eu lhe roubei o pai. A morte dele foi um roubo muito grande. Tínhamos tantos planos para o futuro, mas todos os sonhos foram interrompi­dos. Ele era um bom homem. Temos sofrido muito”, contou.

JOÃO FERREIRA MORREU SOTERRADO NUMA OBRA EM 1998. ERA O ÚNICO SUSTENTO DA FAMÍLIA

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ficou com os sonhos interrompi­dos após o marido morrer soterrado 2João Ferreira tinha 40 anos quando perdeu a vida

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