Gel líquido
Ao ouvir justas observações sobre uma conferência de imprensa dos bispos portugueses, pensei - para além de outros aspetos - em como isto da comunicação, nos tempos que correm, não é fácil. Aliás, a exposição pública, em si mesma, na atualidade, é algo muito indesejável.
Leonor Beleza, em palavras proferidas na cerimónia em que recebeu o Prémio da Universidade de Coimbra, falou, indiretamente, desse tema. Disse o seguinte: “Seria bom que fosse possível que os melhores aceitassem, por algum tempo, interromper as suas atividades profissionais para servir a comunidade e que lhes fosse possível regressar pacificamente a uma vida dita normal. Foi difícil quando regressei, mas atualmente é difícil uma pessoa arriscar um ambiente de suspeita sobre si própria e sobre a sua família”.
Muitos Portugueses não se lembrarão do que Leonor Beleza já passou no exercício de funções governativas. Entre outras, esteve no lugar de Ministra da Saúde entre 1985 e 1990, ou seja, há cerca de trinta e cinco anos. Teve vários “escândalos” em cima de si e saiu do Governo de Cavaco Silva, tal como Miguel Cadilhe, depois de várias primeiras páginas de “O Independente”. Passado pouco tempo, os dois voltaram a ser aquilo a que têm direito: cidadãos prestigiados na sociedade portuguesa, falados para os mais altos cargos. Leonor Beleza podia ter sido Presidente do PSD e Primeira-Ministra e Miguel Cadilhe várias vezes foi falado também como hipótese para chefiar o Governo de Portugal. Ainda este fim de semana, ouvi falar em Leonor Beleza como uma boa sucessora de Marcelo Rebelo de Sousa. Verdade é que foi escolhida para presidir à Fundação Champalimaud, cargo que exerce, de modo notável, há cerca de vinte anos.
Hoje em dia, qualquer um ou qualquer uma podem ser sugeridos para quaisquer
Não sei como será possível fazer a sociedade ganhar consciência de que há diferentes níveis
funções. Civil ou militar, de repente, pode ser alcandorado a candidato aos mais altos cargos. Tempo houve em que alguém disse que uma boa televisão podia fazer de um sabonete Presidente da República. Hoje em dia, já se usa menos esse produto, sendo mais frequente - julgo eu - o gel líquido que, molhado, rapidamente se dilui.
Não sei como será possível fazer a sociedade ganhar consciência de que há diferentes níveis e que nem todos podem ser tudo.