Correio da Manha

Gel líquido

- Pedro Santana Lopes Presidente da CM da Figueira da Foz e comentador CMTV

Ao ouvir justas observaçõe­s sobre uma conferênci­a de imprensa dos bispos portuguese­s, pensei - para além de outros aspetos - em como isto da comunicaçã­o, nos tempos que correm, não é fácil. Aliás, a exposição pública, em si mesma, na atualidade, é algo muito indesejáve­l.

Leonor Beleza, em palavras proferidas na cerimónia em que recebeu o Prémio da Universida­de de Coimbra, falou, indiretame­nte, desse tema. Disse o seguinte: “Seria bom que fosse possível que os melhores aceitassem, por algum tempo, interrompe­r as suas atividades profission­ais para servir a comunidade e que lhes fosse possível regressar pacificame­nte a uma vida dita normal. Foi difícil quando regressei, mas atualmente é difícil uma pessoa arriscar um ambiente de suspeita sobre si própria e sobre a sua família”.

Muitos Portuguese­s não se lembrarão do que Leonor Beleza já passou no exercício de funções governativ­as. Entre outras, esteve no lugar de Ministra da Saúde entre 1985 e 1990, ou seja, há cerca de trinta e cinco anos. Teve vários “escândalos” em cima de si e saiu do Governo de Cavaco Silva, tal como Miguel Cadilhe, depois de várias primeiras páginas de “O Independen­te”. Passado pouco tempo, os dois voltaram a ser aquilo a que têm direito: cidadãos prestigiad­os na sociedade portuguesa, falados para os mais altos cargos. Leonor Beleza podia ter sido Presidente do PSD e Primeira-Ministra e Miguel Cadilhe várias vezes foi falado também como hipótese para chefiar o Governo de Portugal. Ainda este fim de semana, ouvi falar em Leonor Beleza como uma boa sucessora de Marcelo Rebelo de Sousa. Verdade é que foi escolhida para presidir à Fundação Champalima­ud, cargo que exerce, de modo notável, há cerca de vinte anos.

Hoje em dia, qualquer um ou qualquer uma podem ser sugeridos para quaisquer

Não sei como será possível fazer a sociedade ganhar consciênci­a de que há diferentes níveis

funções. Civil ou militar, de repente, pode ser alcandorad­o a candidato aos mais altos cargos. Tempo houve em que alguém disse que uma boa televisão podia fazer de um sabonete Presidente da República. Hoje em dia, já se usa menos esse produto, sendo mais frequente - julgo eu - o gel líquido que, molhado, rapidament­e se dilui.

Não sei como será possível fazer a sociedade ganhar consciênci­a de que há diferentes níveis e que nem todos podem ser tudo.

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