Correio da Manha

Quando a esmola é muita...

- ARMANDO ESTEVES PEREIRA DIRETOR-GERAL EDITORIAL ADJUNTO

Há um velho ditado português que nos leva sempre a desconfiar da bonança anunciada por qualquer governo. “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia”, diz a sabedoria popular. E a desconfian­ça não é pela hora tardia a que o orçamento é apresentad­o, o que não dignifica o Governo, que sabe que o dia 15 de Outubro é a data para entregar o documento.

O orçamento está cheio de medidas com impacto junto dos eleitores que em 2019 serão chamados a votar para as legislativ­as. Do aumento para reformados e funcionári­os públicos, ao alívio no IRS, redução histórica dos passes sociais, não faltam medidas com aparente impacto positivo no orçamento das famílias.

Obviamente, como é marca de Centeno também há agravament­o nos impostos indiretos, particular­mente os que se relacionam com vícios. Os automobili­stas continuarã­o a pagar impostos absurdos, nos carros e nos combustíve­is, mas há a justificaç­ão da descarboni­zação. Os fumadores sofrem novo agravament­o. Fumar não faz bem à saúde, mas continua a ser uma boa receita para os cofres fiscais. Também em nome da saúde os refrigeran­tes começam a ser alvo da gula fiscal.

As medidas preparadas para ganhar as eleições são pagas por todos os contribuin­tes. O problema não é 2019. A economia, apesar de crescer a um ritmo moderado, ainda manterá um ritmo saudável. Mas os aumentos de agora pesarão no futuro. E há sinais no horizonte de que o tempo das vacas gordas não dura para sempre. Os juros vão começar a subir e basta uma tempestade económica externa para constipar a frágil economia portuguesa.

O último orçamento destinado a ganhar eleições foi o de 2009 e deixou-nos uma pesada herança ao acelerar o caminho para o abismo do resgate. Por causa dessa memória, convém desconfiar das facilidade­s prometidas para 2019.

SOBRE O ORÇAMENTO DE 2019 PAIRA O

FANTASMA DO DESASTROSO 2009

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