Jara e a memória do Chile
Anotícia da morte aos 96 anos da ex-bailarina inglesa Joan Jara, viúva do cantor Victor
Jara, assassinado a tiro por militares de Pinochet no Estádio Nacional do Chile, poucos dias depois do golpe de 11 de setembro de 1973, permite falar de uma mulher que nunca desistiu de exigir a condenação dos assassinos do marido, tendo chegado ao ponto de identificar como assassino Pedro Barrientos, entretanto radicado na Flórida e por fim condenado a pagar uma indemnização à família de Victor Jara.
O golpe que derrubou Salvador Allende e o governo da Unidade Popular surpreendeu o cantor e a sua mulher, nascida em Londres em 1927. Victor Jara, famoso cantor ligado ao Partido Comunista, foi imediatamente detido e transportado com algemas para o estádio nacional em Santiago do Chile, onde acabou por ser executado a tiro.
Joan Jara esteve primeiro casada com o coreógrafo chileno Patricio Bunster. Após a execução de Jara conseguiu regressar a Londres, mas nunca desistiu de lutar pela identificação e condenação dos assassinos.
Após o golpe, publiquei, ainda antes do 25 de Abril, o livro ‘O Canto Arma de Victor Jara’ (Edição República), que acabou por chegar às suas mãos. Ela enviou-me uma comovida carta de agradecimento.
O golpe de 11 de Setembro provocou um profundo choque político na população portuguesa e terá sido fundamental para unir e mobilizar os oficiais portugueses que viriam a criar o MFA.
Recuperada a vida democrática no Chile, Joan Jara recebeu uma importante condecoração nacional.
O golpe de Pinochet esteve sempre presente na intervenção cultural e política dos cantores portugueses que, logo após o 25 de Abril, receberiam em Lisboa os grupos Quilapayun e Inti-Illimani, os mais importantes da música popular chilena, e viram nascer em Coimbra a Brigada Victor Jara.
Joan Jara nunca desistiu de exigir a condenação dos assassinos do marido