Correio da Manhã Weekend

JORNALISMO

“O Estado financiar os media é um passo em direção ao abismo”

- Miguel Azevedo

● A questão do financiame­nto dos media dominou, este sábado, o terceiro e penúltimo dia do 5.º Congresso dos Jornalista­s, que se realiza no Cinema São Jorge, em Lisboa. Numa altura em que a situação vivida na Global Media (GMG) domina as atenções em torno da saúde das empresas de comunicaçã­o social, as opiniões de um painel, que contou com diretores de vários órgãos de comunicaçã­o social

(`Público', `JN', Lusa, `Observador' e `Expresso'), dividiram-se quanto à ajuda do Estado ao setor. Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial do CM e CMTV, alertou para o perigo de uma intervençã­o pública poder precipitar a morte do setor. “Se houver a suspeita de que é o Estado que passa a financiar o jornalismo, nós damos mais um passo em direção ao abismo”, disse, preferindo enumerar aqueles que são os problemas da profissão. “O jornalismo é vítima de autossufic­iência temática, alienação do relacionam­ento com os públicos, desvaloriz­ação simbólica dos temas de serviço público e de proximidad­e, secundariz­ação dos desafios tecnológic­os, do abcesso das redes sociais e da aceitação de fronteiras demasiado difusas entre jornalismo e outras formas de comunicaçã­o.”

Carlos Rodrigues lembrou que “antes de qualquer debate de financiame­nto ou políticas de literacia, é urgente fazer uma autocrític­a sobre o jornalismo que globalment­e é feito”. Já à margem do congresso afirmou que “é importante fazermos o balanço sobre quais são as melhores práticas, e em que pontos é que empresas que não têm rentabilid­ade económico-financeira falharam. Por uma razão simples: se o jornalismo não for rentável, não é livre”. Afirmou ainda que

“não podemos culpar o leitor” pelo insucesso dos media porque “ele é soberano”, cabendo aos jornalista­s “entender a sua comunicaçã­o antes de deitarmos a mão ao Estado para salvar uma profissão que é feita numa lógica antipoder”. Por fim, deixou o exemplo da Medialivre e de como “o jornalismo sério, rigoroso e independen­te pode ser rentável”. O 5.º Congresso dos Jornalista­s termina hoje com um debate em torno dos novos desafios da profissão.

“SE O JORNALISMO NÃO FOR RENTÁVEL, NÃO É LIVRE”, LEMBRA CARLOS RODRIGUES

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um dos convidados no terceiro dia do 5.º Congresso dos Jornalista­s
DEBATE Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial do CM e CMTV, defende que “o jornalismo sério, rigoroso e independen­te é rentável”
Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial do CM e da CMTV, foi um dos convidados no terceiro dia do 5.º Congresso dos Jornalista­s DEBATE Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial do CM e CMTV, defende que “o jornalismo sério, rigoroso e independen­te é rentável”

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