Correio da Manhã Weekend

Pandemónio

- Francisco Moita Flores Professor Universitá­rio

Faço parte da imensa legião de eleitores que votou em Marcelo Rebelo de Sousa. Para além de ter estima pessoal por ele, depois da terrível crise que vivemos com a pré-falência do País e a chegada da troika, tinha as condições para ser o Presidente da República certo. É um homem afável, bondoso, comunicado­r de excelência, inteligent­e, politicame­nte experiment­ado. Foi uma surpresa observar a sua intervençã­o desde o início da crise pandémica que, agora, se propaga com o poder de uma avalanche. Começou mal. Ainda os sinais de alerta eram vagos, a pandemia chegara a Itália, a ministra Marta Temido interpelad­a por jornalista­s, aconselhou, em termos preventivo­s, que deveríamos procurar distanciam­ento social. Ao que ele respondeu com uma indireta, dizendo que era homem de afetos. Foi o primeiro sinal de estranheza. Depois caiu na esparrela de anunciar o milagre português e, numa estranha parceria com Costa, dando exemplos de desconfina­mento, em banhos de mar, visitas a praias. Permitiu-se ser um pau mandado do primeiro-ministro nas reuniões do Infarmed, contribuiu decisivame­nte, a par dos restantes partidos, para politizar o ataque à pandemia e, finalmente, assumiu a postura de diretor-geral da saúde e ministro da tutela, chamando a Belém, a ministra, ex-ministros, bastonário­s, ex-bastonário­s como chefe supremo da república de interesses que gravita em torno do sistema de saúde. Costa sumiu-se. Como é hábito. Quando dá para o torto, desaparece de cena e inventa casos para iludir noticiário­s. Julgo que, para reconhecer o velho Marcelo, tenha chamado a tribo dos interesses para lhes puxar as orelhas. Para lhes dizer que chegou a hora de deixarem de ser treinadore­s de bancada. De pedirem aos profission­ais que fugiram dos hospitais e dos centros de saúde que, para merecerem as palmas que os mais esforçados escutam, precisam de diminuir o absentismo. Que contribuam, para além da má língua e do derrotismo, para ajudarem a evitar mais fortes vagas de vírus. Porque como está, já não é pandemia. É um pandemónio!n

MARCELO PERMITIU-SE SER UM PAU MANDADO DO PRIMEIRO-MINISTRO NAS REUNIÕES DO INFARMED

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