Correio da Manhã Weekend

“HÁ UMA DESIGUALDA­DE OBJETIVA NO ACESSO À JUSTIÇA”

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O presidente da Associação Sindical de Juízes Portuguese­s

quer ver aprovado um estatuto ajustado à classe Juízes de instrução são os garantes dos direitos e liberdades

A ASJP DESCONVOCO­U O DIA DE GREVE MARCADO PARA JANEIRO. QUE MEDIDA APRESENTAD­A PELO GOVERNO VOS FARÁ TERMINAR A PARALISAÇíO?

Na abertura do ano judicial, o Presidente da República disse que tem de ser rapidament­e aprovado um estatuto funcional e financeiro dos juízes, adequado às exigências da função. É esse o nosso objetivo. Quando for alcançado deixará de haver razão para contestar.

A MINISTRA DA JUSTIÇA CONSIDERA QUE A GREVE DOS JUÍZES RETIRA CREDIBILID­ADE ÀS INSTITUIÇÕ­ES. TEME QUE ISSO ACONTEÇA? Claro que sim. Ninguém gosta de ver os juízes em greve.

E os juízes muito menos. É uma medida muito excecional, para circunstân­cias verdadeira­mente especiais, que não era usada há 13 anos. Mas o que retirou mais credibilid­ade às instituiçõ­es foi o Governo e o Parlamento não terem sido, durante demasiado tempo, capazes de conversar com os juízes de maneira a que se pudesse ter evitado a greve.

OS JUÍZES PODEM, LEGALMENTE, FAZER GREVE?

Sim. Com o mesmo quadro legal, fizeram-se três greves em 43 anos. A questão é de oportunida­de e de justificaç­ão.

SENTEM-SE EXPLORADOS? Não. Os juízes desempenha­m uma função muito exigente, com exclusivid­ade absoluta e vitalícia. Não há outra função ou profissão em que isso aconteça. Ninguém está a pedir aumentos de vencimento­s. Trata-se do cumpriment­o de compromiss­os assumidos em 1990 e em 2006 que depois foram rompidos pelos governos. OS PORTUGUESE­S ENCARAM OS JUÍZES DE INSTRUÇÃO COMO ‘JUSTICEIRO­S’? Acho que não. Os juízes de instrução são os garantes dos direitos e liberdades. Têm de assegurar que não há buscas, escutas telefónica­s, prisões preventiva­s ou acusações sem fundamento. O BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DIZ

QUE HÁ UMA JUSTIÇA PARA RICOS E OUTRA PARA POBRES... Quando uma pessoa não pode recorrer ao tribunal para fazer valer o seu direito, porque não tem dinheiro para suportar as custas caríssimas e pagar a um advogado, e outra pode pagar

300 ou 400 mil euros a uma equipa de advogados para atrasar a ida para a prisão, está tudo dito. Há uma desigualda­de objetiva nas condições de acesso. Mas, em tribunal, as pessoas, ricas ou pobres, são todas tratadas da mesma maneira.

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