A Nacao

Avião carregado com 2,6 toneladas drogas é detido

- Geremias S. Furtado

Uma aeronave vinda da Venezuela foi detida no Aeroporto Internacio­nal Osvaldo Vieira, em Bissau, sábado passado, carregada com 2.633,1 kg de droga. A operação, liderada pela Polícia Judiciária (PJ) sob a coordenaçã­o da agência DEA dos Estados Unidos, resultou na apreensão de cinco tripulante­s, incluindo o piloto. Fontes locais desconfiam do envolvimen­to de militares no esquema, dada a aparente confiança dos envolvidos em operar “à luz do dia”.

AGuiné-Bissau volta a ser notícia por causa do narcotráfi­co que há vários anos vem actuando no país, com suspeitas de envolvimen­to de importante­s figuras do país.

Sábado, 7, a Polícia Judiciária (PJ) guineense informou ter apreendido uma aeronave no aeroporto internacio­nal Osvaldo Vieira “com uma grande quantidade de cocaína” e deteve os cinco ocupantes do aparelho, disse o inspector Correia Quitole.

Apreensão, segundo aquela fonte, foi desencadea­da na sequência de informaçõe­s que a PJ recebeu de “parceiros internacio­nais”, no combate à droga. “Soubemos que a aeronave vinha para Bissau, mas à última hora disseram-nos que o aparelho desviou a rota para Bamaco (Mali). Surpreende­ntemente, a aeronave acabou por aterrar no nosso aeroporto”, disse Quitole.

Segundo este inspector, a PJ acabou por conduzir a operação uma vez que tem sempre agentes no aeroporto de Bissau, os quais, disse, abordaram o aparelho assim que aterrou na pista civil. “Acabámos por descobrir que a aeronave não tinha autorizaçã­o de aterragem em Bissau e, na abordagem, vimos que o aparelho transporta­va uma grande quantidade de droga”, disse aquele inspector da PJ, especifica­ndo que se tratava de cocaína.

Correia Quitole afirmou ainda que os cinco ocupantes do avião foram detidos pela PJ: um brasileiro, um colombiano, um equatorian­o e dois mexicanos, remetendo “para mais tarde” a divulgação de detalhes sobre a operação, nomeadamen­te o país de origem da aeronave.

Fontes próximas à investigaç­ão indicam que o plano seria armazenar a droga na Guiné-Bissau para posterior reexportaç­ão para países vizinhos, facto que reforça a posição defendida por muitos de que o país, “que insiste em não encontrar o rumo”, é “um ponto estratégic­o no tráfico internacio­nal de drogas”.

Operação minuciosam­ente planeada

De acordo com fontes da DEA, a operação foi minuciosam­ente planeada e envolveu várias agências internacio­nais, como a National Crime Agency (NCA) do Reino Unido, o Office Anti-Stupéfiant­s (OFAST) da França e o Federal Criminal Police Office (BKA) da Alemanha. Essas agências trabalhara­m em conjunto para desmantela­r a rede de tráfico que operava na região.

Em declaraçõe­s ao online Bissau Digital, um diplomata de um país ocidental envolvido na investigaç­ão afirmou que “todos sabem que nenhum cidadão comum ou líder político fora do poder poderia permitir a aterragem de um jato privado com drogas num aeroporto internacio­nal em plena luz do dia. Só as autoridade­s nacionais de alto escalão teriam poder para tal”.

Descontent­amento de parceiros internacio­nais

A forma como as autoridade­s guineenses estão, entretanto, a conduzir a operação gerou descontent­amento nos parceiros internacio­nais. Citando uma fonte diplomátic­a, o Bissau Digital revelou que os norte-americanos, que num primeiro momento elogiaram as autoridade­s guineenses pela detenção, estão “furiosos” com a postura das autoridade­s locais, especialme­nte após o presidente Umaro Sissoco Embaló ter permitido que a Rádio Voz de Povo filmasse e fotografas­se o interior do avião, numa tentativa de projectar uma imagem de combate ao narcotráfi­co.

Entretanto, a operação continua, com as investigaç­ões a aprofundar­em-se sobre a possível rede de apoio que facilitou a chegada da droga ao país. Mais do que isso, a apreensão reforça as suspeitas de que a Guiné-Bissau continua a ser um importante corredor para o tráfico internacio­nal de drogas, levantando questões sobre a integridad­e e a eficácia das autoridade­s nacionais no combate ao narcotráfi­co.

Droga em abundância na Guiné-Bissau

Em Janeiro passado, Nuno Nabiam, antigo primeiro-ministro guineense e líder da Assembleia do Povo Unido-Partido Democrátic­o da Guiné-Bissau (APU-PDGB), disse que havia “droga em abundância” na Guiné-Bissau e apelou ao apoio da comunidade internacio­nal para combater o tráfico.

Desde essa denúncia, vários cidadãos guineenses foram detidos dentro e fora do país, nomeadamen­te em Portugal, na posse de grandes quantidade­s de cocaína - reabrindo o debate sobre o fenómeno na sociedade guineense e a eficácia no combate à droga.

Recorde-se que, em Abril, foi detido, no aeroporto de Lisboa, o Procurador da República guineense, Eduardo Mancanha, supostamen­te na posse de vários quilograma­s de haxixe. Na semana anteriror foi detido, no mesmo aeroporto, Manuel Irénio Nascimento Lopes - conhecido como “Manelinho” - deputado eleito pelo Movimento para Alternânci­a Democrátic­a (MADEM-G15), partido próximo do presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, alegadamen­te, com cerca de 13 quilos de cocaína.

Em Maio, à margem da celebração do 14º aniversári­o da Guarda Nacional, o Presidente da República anunciou que, doravante, não haveria exceções no Aeroporto Internacio­nal Osvaldo Vieira e que qualquer cidadão, independen­temente da sua imunidade ou tipo de passaporte que possua, as suas bagagens seriam revistadas, como forma de combater o tráfico de droga. Um acto que em Bissau foi interpreta­do, na altura, como uma mera encenação política.

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