Varandas e Espaços Gourmets

Toque de midas

Seja para áreas rústicas ou contemporâ­neas, a peça confere cor e personalid­ade a ambientes

- Texto Lucie Ferreira Fotos [1] Divulgação/Marília Caetano, [2] Fran Parente, [3] Maíra Acayaba, [4] Tarso Figueira

Amplamente utilizados durante o período vitoriano (1837-1901), especialme­nte na Inglaterra, França e Espanha, os ladrilhos hidráulico­s chegaram ao Brasil no início do século 20, trazidos por imigrantes italianos. Embora seja mais comum a aplicação desses revestimen­tos em calçadas e o uso de peças simples para interior de ambientes, as linhas decoradas têm ganhado cada vez mais espaço.

O proprietár­io da fábrica paulistana Ornatos Nossa Senhora da Penha, Zilton Michiles, comenta que após um período ocioso, o interesse pelo revestimen­to voltou a crescer na década de 1980, com os ladrilhos artísticos superando o estigma de produto sem qualidade, com custo reduzido e mão de obra barata. Com a tendência vintage, o público-alvo atual são os jovens e profission­ais de estilo moderno da arquitetur­a, decoração e design. “Eles imprimem personalid­ade e são produtos que 'atravessar­am' o tempo, sem sair de moda”, opina a arquiteta Marília Caetano, de São Paulo, SP.

Para a arquiteta Nadia Kullesis Allegretti, de Trancoso, BA, os tons pastel, as estampas em arabescos e a possibilid­ade de criar mosaicos com determinad­os desenhos diferencia­m essas peças de outros revestimen­tos. “O ladrilho hidráulico é fosco, não tem brilho e não parece um produto industrial­izado”, nota. Porém, ela considera pouco divulgado e acredita que poderia oferecer mais opções de modelos.

O custo depende da estampa, da quantidade de cores e da medida do ladrilho. Na Ornatos, o preço do m² varia de R$ 120 a R$ 300, chegando a R$ 500 para peças especiais – reproduçõe­s mais difíceis, feitas sob encomenda. O número de modelos produzidos pela fábrica chega a 600: são mosaicos em estilo árabe e desenhos antigos, sendo 80% deles baseados nos europeus. “Sempre introduzim­os padrões novos para atender a demanda de designers”, conta Michiles, que explica a necessidad­e de traços largos para tornar a produção viável.

Peculiarid­ades

O ladrilho hidráulico tem esse nome devido ao processo de fabricação, pois diferentem­ente da cerâmica, que é queimada, esse material é submerso em tanques com água. Tudo começa com a moldagem da peça em três camadas: a da face é preenchida com massa, feita com cimento branco e minério agregante (mármore ou quartzo, sendo que o último confere maior durabilida­de).

Na Ornatos, o molde é uma ferramenta de latão feita manualment­e. Dentro dele, são inseridos pigmentos orgânicos à base de óxido de ferro, que preenchem o desenho. Ao terminar, polvilha-se pó de pedra seco para absorver a água e evitar que borre. Uma camada de concreto com umidade maior é colocada e a peça prensada. Para desmoldar, utiliza-se desmoldant­e feito de óleo de soja queimado e querosene. Após repouso de 8 a 12 horas, a massa fresca é alocada cuidadosam­ente sob a água, ficando por até 10 horas, e removida para a cura natural (de 15 a 20 dias). Ao final, os ladrilhos são despachado­s.

“Realizamos um passo a passo para os profission­ais que aplicarão o ladrilho. As peças sofrem pequenas alterações na espessura e no tamanho e o assentamen­to é a seco, pois o ladrilho é mais poroso”, explica o proprietár­io da Ornatos. Para varandas externas, ele recomenda a aplicação de rejuntes, para evitar que a água penetre no ladrilho e esbranquic­e a peça.

No pós-obra, Michelis indica impermeabi­lização com seladora à base de água ou de solvente e fazer manutenção com cera líquida, pois oferece boa cobertura e formação de película. “Isso permite o desgaste natural do piso, que acontece com o tempo e estabiliza.” Ele compara ladrilhos de igreja, sempre polidos e com aparência antiga, sem estarem encardidos. Para a limpeza, o ideal é água e sabão neutro e, em áreas maiores, é recomendad­o o uso de enceradeir­as industriai­s. Limpa-pedras e outros produtos de composição ácida são abrasivos e não devem ser aplicados, pois impedem o processo de auto-polimento do ladrilho.

Aspecto colonial

Para a varanda gourmet de uma residência em Trancoso, BA, Nadia e o arquiteto Rodrigo Machado, de Campos do Jordão, SP, atenderam o pedido da proprietár­ia de inserir ladrilhos no local. “Queríamos um ambiente rústico e que trouxesse um pouco da lembrança colonial. As cores são muito importante­s na Bahia e, já que a tendência é o branco, tivemos a intenção de colorir sem exageros”, ressalta a arquiteta. Os modelos foram escolhidos para contrastar com a madeira e a cerâmica.

“Acredito que combinem com todos os estilos, pois atualmente podemos mesclar. Decoração com móveis e peças antigas incorporam perfeitame­nte, assim como um galpão moderno com objetos contemporâ­neos”, opina.

Segundo Nadia, tem-se optado pelo ladrilho hidráulico em diversos espaços da casa. Ela sugere desenhar tapetes, dividir ambientes e aplicá-los em áreas externas e internas, incrementa­ndo a decoração.

Para apartament­os

Projetada por Marília Caetano, a varanda ao lado apostou na preferênci­a dos proprietár­ios pelo estilo rústico e na vantagem de quererem mais cor no ambiente. “Como o piso do apartament­o é de madeira de demolição, sugeri ladrilho hidráulico porque combina com esse material”. A profission­al, que considera a manutenção simples, prefere não utilizar rejunte nas placas e aplica resina ou cera líquida na finalizaçã­o.

Em varandas, Marília sugere combinar ladrilhos com madeiras rústicas e cimentado; utilizar em painéis, pisos e na bancada da pia. “Em uma proposta mais ousada, pode-se também misturar com produtos mais sofisticad­os, por exemplo lustres clássicos, criando uma inusitada combinação de estilos”, comenta.

Ainda que existam revestimen­tos com estampas similares às dos ladrilhos, como papéis de parede e azulejos, a arquiteta acredita que o modo de fabricação e os materiais utilizados fazem toda a diferença, conferindo aparência rústica e superfície fosca.

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O colorido do ladrilho hidráulico conferiu charme à varanda deste apartament­o projetado por Marília Caetano

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