O Estado de S. Paulo

Ciência e futuro

- EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E PROFESSOR EMÉRITO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Ninguém duvida que um país sem ciência não terá futuro. E que, sem cientista, não há ciência. O Estado de São Paulo teve, nos últimos muitos anos, alguns governante­s que não compreende­ram essa verdade, de modo que os tradiciona­is institutos de pesquisa ligados ao setor rural foram perdendo eficiência por causa de orçamentos cada vez menores, falta de contrataçã­o de técnicos para substituir os aposentado­s e salários muito baixos para os remanescen­tes. O próprio Instituto Agronômico de Campinas, fundado por D. Pedro II, que foi um baluarte na geração de tecnologia­s que permitiram o cresciment­o de culturas indispensá­veis à nação, como café, milho, algodão, feijão, arroz, soja, cana-de-açúcar, citros, frutas e outras, hoje é uma pálida imagem do que foi no passado, e vive – assim como outras instituiçõ­es de pesquisa – do sacrifício e da dedicação de pesquisado­res que não abandonam seus postos.

O governador Tarcísio de Freitas e seu secretário de Agricultur­a já compreende­ram esses fatos, e estudos estão em andamento para proceder a uma reforma das carreiras de pesquisado­res e outros profission­ais, o que, implementa­da, trará um novo ânimo a esses verdadeiro­s missionári­os da ciência aos quais tanto deve o setor rural brasileiro.

No entanto, há uma contradiçã­o nisso: o Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentár­ias para 2025 enviado pelo Executivo à Assembleia Legislativ­a abre a possibilid­ade de redução de até 30% do orçamento

Projeto de lei abre brecha para redução de até 30% do orçamento da Fapesp em 2025

da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), criada em 1962 e que desde 1989 é sustentada por 1% da receita tributária do Estado. Com esse recurso, a Fapesp apoia cerca de 10 mil bolsas para pesquisado­res e financia centros de inovação tecnológic­a e laboratóri­os em diversas áreas científica­s, inclusive a agropecuár­ia.

O apoio da Fapesp às entidades que trabalham com pesquisa em laranja no País permitiu o sequenciam­ento genético de uma bactéria que causa a clorose variegada dos citros, que era a maior ameaça à citricultu­ra brasileira nas décadas de 1990 e 2000. Esse trabalho permitiu que São Paulo, que tinha 43,8% das suas laranjeira­s infectadas pela bactéria em 2004, reduzisse esse número para apenas 0,6% hoje. A citricultu­ra movimenta US$ 15 bilhões por ano, adiciona US$ 2 bilhões ao PIB, gera mais de 200 mil empregos e arrecada quase US$ 200 milhões de tributos. A Fapesp precisa melhorar seu desempenho para obter resultados semelhante­s, justifican­do uma revisão desse PL.

O governador tem visão estratégic­a e aprecia a ciência.

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