O Estado de S. Paulo

Fundos de investimen­to se ajustam à volatilida­de do dólar

Especialis­tas dizem que moeda não deve registrar queda tão cedo e que, por isso, buscam mitigar riscos com ações de hedge

- BRUNA CAMARGO

Forças No início do ano, cenário já era positivo para o dólar, mas fatores externos e internos puxaram a moeda

Em meio a um cenário de volatilida­de cambial e a uma expressiva alta do dólar frente ao real, os fundos de investimen­to têm revisitado suas carteiras com ativos dolarizado­s e ficado mais atentos a estratégia­s para mitigar riscos – com operações de hedge (proteção) – e reforçar suas teses. Até porque é consenso entre especialis­tas é que o dólar não deve ver uma queda relevante tão cedo.

“Os investidor­es como um todo tinham um cenário muito positivo para o câmbio neste começo de ano. Estava todo mundo estimando que o dólar poderia vir para baixo dos R$ 4,80, tinha gente até falando em R$ 4,50. Tínhamos um cenário de que o câmbio seria mais favorável aqui no Brasil, o que não aconteceu tanto por alguns fatores externos e quanto ‘alguma coisa’ interna”, avalia João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão.

Do lado externo, a deterioraç­ão das expectativ­as de queda de juros nos Estados Unidos deu apoio ao câmbio, enquanto no mercado local, a falta de tração dos preços das commoditie­s agrícolas deixou o real mais fraco, avalia Piccioni. “Com isso, o mercado aumentou o target da moeda para o fim do ano. Nós esperamos algo entre R$ 4,90 e R$ 5,10”, diz.

Por outro lado, apesar da volatilida­de do dólar ter subido nas últimas semanas, ela continua historicam­ente baixa, na avaliação de Daniel Campanini, gestor e responsáve­l pela área dos fundos multimerca­dos da Western Asset. E, ao observar a economia americana e na expectativ­a por um “pouso suave”, a gestora vinha carregando há algum tempo uma posição vendida (que aposta na queda) em dólar contra moedas emergentes – como real e peso mexicano.

INFLAÇÃO.

No entanto, quando o ano virou e os números de inflação passaram a vir piores no exterior, a Western passou a recolher o risco da carteira, reduzindo a posição vendida em dólar. Segundo Campanini, houve alguma migração para ficar vendido em moedas desenvolvi­das, como euro e libra. “Ainda acreditamo­s no soft landing (nos Estados Unidos), mas a convicção é menor que num passado recente”, diz.

Além disso, a Western está aproveitan­do para adicionar opções à carteira, ou seja, negociar os direitos de compra e venda de instrument­os financeiro­s a um valor fixo. “As opções de proteção ajudaram a sofrer um pouco menos no curto prazo”, diz Campanini. E, mais recentemen­te, com o dólar mais forte, a gestora começou ainda a fazer opções com caracterís­tica mais bullish (otimista), para caso o dólar volte a ficar abaixo dos R$ 5.

Na Empiricus Gestão, Piccioni conta que os fundos que investem no exterior não têm hedge, então a alta do dólar favorece os produtos. Segundo o gestor, é uma política que sempre foi adotada para investimen­tos internacio­nais, em especial ações, para que investidor­es tenham exposição cambial “dado que as empresas lá fora são remunerada­s em dólar”. “É nossa tese.”

Já nos fundos locais que têm posições ativas em dólar, como os multimerca­dos, a Empiricus Gestão está “deixando o barco correr”, sem alteração nos pesos, diz Piccioni. Não há posições vendidas, mas sim compradas (que apostam na alta) em dólar, para fazer um contrapeso à Bolsa brasileira.l

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