IA e clima, os grandes desafios do século
Imagens dramáticas têm mostrado a dimensão da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Mas, ironicamente, uma que mais vi gerar discussão nas redes sociais é a de um cenário apocalíptico em São Paulo. Pura criação de inteligência artificial, inventando como ficaria a região do Rio Pinheiros se chuva semelhante à que atingiu os gaúchos caísse sobre Morumbi, Pinheiros, Butantã e imediaçõess. Não estranha. Não importa o assunto, logo surge a IA no meio. Nunca se falou tanto do tema e dos impactos que terá na vida e no trabalho. Dependendo do tom, dá logo pra perceber se o interlocutor é “tecnoeufórico”
ou “tecnocatastrofista”.
Quem busca o caminho do meio pode entender mais sobre o tema lendo A Próxima Onda: Inteligência Artificial, Poder e o Maior
Dilema do Século 21 (Editora Record). Escrita por Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar, a obra relembra as revoluções tecnológicas da humanidade e diz que estamos na iminência de cruzar barreira decisiva. “Seremos um mundo com impressoras de DNA, computadores quânticos, patógenos artificialmente criados, armas autônomas, assistentes robôs e energia abundante. Tudo isso representa uma mudança drástica nos limites da capacidade humana”, assinalam, para em seguida acrescentar: “Mas NÃO estamos preparados”.
O livro mostra como nas revoluções tecnológicas o progresso em uma área acelera o progresso nas outras, numa catalisação cruzada que dribla os próprios inventores. “O desafio inevitável da tecnologia é que seus criadores perdem o controle sobre o caminho seguido por suas invenções.”
A introdução de tecnologias gera também consequências políticas. “Assim como o canhão e a prensa móvel subverteram a sociedade, devemos esperar o mesmo de tecnologias como IA, robótica e biologia sintética.” Sobretudo num mundo estressado por guerras, pandemia, crises e pressões antigas e crescentes, como o declínio da confiança nos governos, a desigualdade, a desconfiança em relação à mídia e ao establishment científico e, claro, o aquecimento global.
O livro destaca que a ideia que a tecnologia, sozinha, pode solucionar problemas sociais e políticos é uma ilusão perigosa. Assim como também é errado o conceito de que esses problemas podem ser solucionados sem tecnologia. Principalmente com o planeta se transformando. “Os avanços tecnológicos nos ajudarão a cultivar alimentosemtemperaturasinsustentáveis, detectar enchentes, terremotos e incêndios com antecedência”, diz Suleyman. “Eles nos ajudarão a inventar ferramentas para a transição para energia renovável e combatermos as mudanças climáticas numa era em que a política empacou.”
Ainda estamos no começo do século 21, mas dois grandes desafios estão postos: como mitigar e se adaptar à crise climática e como se preparar para riscos de uma IA desregulada. Estão os países preparados? A julgar pelas imagens – verdadeiras – que temos visto do Sul, ao menos no primeiro quesito o Brasil ainda está no zero. •