O Estado de S. Paulo

IA e clima, os grandes desafios do século

- Luciana Garbin Instagram: @lucianagar­bin JORNALISTA DO ESTADÃO, PROFESSORA DA FAAP E MÃE DE GÊMEOS

Imagens dramáticas têm mostrado a dimensão da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Mas, ironicamen­te, uma que mais vi gerar discussão nas redes sociais é a de um cenário apocalípti­co em São Paulo. Pura criação de inteligênc­ia artificial, inventando como ficaria a região do Rio Pinheiros se chuva semelhante à que atingiu os gaúchos caísse sobre Morumbi, Pinheiros, Butantã e imediações­s. Não estranha. Não importa o assunto, logo surge a IA no meio. Nunca se falou tanto do tema e dos impactos que terá na vida e no trabalho. Dependendo do tom, dá logo pra perceber se o interlocut­or é “tecnoeufór­ico”

ou “tecnocatas­trofista”.

Quem busca o caminho do meio pode entender mais sobre o tema lendo A Próxima Onda: Inteligênc­ia Artificial, Poder e o Maior

Dilema do Século 21 (Editora Record). Escrita por Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar, a obra relembra as revoluções tecnológic­as da humanidade e diz que estamos na iminência de cruzar barreira decisiva. “Seremos um mundo com impressora­s de DNA, computador­es quânticos, patógenos artificial­mente criados, armas autônomas, assistente­s robôs e energia abundante. Tudo isso representa uma mudança drástica nos limites da capacidade humana”, assinalam, para em seguida acrescenta­r: “Mas NÃO estamos preparados”.

O livro mostra como nas revoluções tecnológic­as o progresso em uma área acelera o progresso nas outras, numa catalisaçã­o cruzada que dribla os próprios inventores. “O desafio inevitável da tecnologia é que seus criadores perdem o controle sobre o caminho seguido por suas invenções.”

A introdução de tecnologia­s gera também consequênc­ias políticas. “Assim como o canhão e a prensa móvel subvertera­m a sociedade, devemos esperar o mesmo de tecnologia­s como IA, robótica e biologia sintética.” Sobretudo num mundo estressado por guerras, pandemia, crises e pressões antigas e crescentes, como o declínio da confiança nos governos, a desigualda­de, a desconfian­ça em relação à mídia e ao establishm­ent científico e, claro, o aqueciment­o global.

O livro destaca que a ideia que a tecnologia, sozinha, pode solucionar problemas sociais e políticos é uma ilusão perigosa. Assim como também é errado o conceito de que esses problemas podem ser solucionad­os sem tecnologia. Principalm­ente com o planeta se transforma­ndo. “Os avanços tecnológic­os nos ajudarão a cultivar alimentose­mtemperatu­rasinsuste­ntáveis, detectar enchentes, terremotos e incêndios com antecedênc­ia”, diz Suleyman. “Eles nos ajudarão a inventar ferramenta­s para a transição para energia renovável e combatermo­s as mudanças climáticas numa era em que a política empacou.”

Ainda estamos no começo do século 21, mas dois grandes desafios estão postos: como mitigar e se adaptar à crise climática e como se preparar para riscos de uma IA desregulad­a. Estão os países preparados? A julgar pelas imagens – verdadeira­s – que temos visto do Sul, ao menos no primeiro quesito o Brasil ainda está no zero. •

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