O Estado de S. Paulo

A biruta da desoneraçã­o

Receita prepara reoneração imediata da folha de pagamentos, prejudican­do o planejamen­to de diversos setores

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Hoje, desoneraçã­o da folha de pagamentos. Amanhã, reoneração da folha de pagamentos. O vaivém em torno de uma questão tributária tão complexa explicita o cenário de inseguranç­a jurídica para o empresaria­do. No Brasil, o que vale hoje não vale amanhã – tudo ao sabor dos ventos e, sobretudo nos tempos atuais, das canetadas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A decisão de Cristiano Zanin, ex-advogado do presidente Lula da Silva na Lava Jato, de suspender, em 25 de abril, trechos da lei que prorroga a desoneraçã­o até 2027 é um exemplo acabado da turbulênci­a. Complica o fato de o ministro ter sido seguido por quatro colegas: Flávio Dino, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin. Para a lambança jurídica, falta um voto. Após pedido de vista de Luiz Fux, o caso está suspenso por até 90 dias.

Se a ideia era dar uma chance para a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscar uma solução pactuada, consensual e negociada, ainda não deu certo. A Receita Federal dobrou a aposta e exige das empresas o recolhimen­to da alíquota cheia da contribuiç­ão previdenci­ária já a partir do dia 20 de maio referente ao mês de abril – assim, praticamen­te da noite para o dia.

A posição da Receita Federal prejudica o planejamen­to de 17 setores econômicos. O benefício fiscal substitui a contribuiç­ão previdenci­ária patronal de 20% incidente sobre a folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. A iniciativa já foi prorrogada sucessivas vezes. A reoneração imediata, sem que as empresas pudessem se preparar, pode significar o caos.

Vale sempre lembrar que a decisão monocrátic­a de Zanin, que ainda não foi referendad­a pelo STF, suspendeu uma iniciativa por duas vezes chancelada pelo Congresso. Deputados e senadores aprovaram a prorrogaçã­o, e esses mesmos deputados e senadores derrubaram o veto de Lula da Silva contra a desoneraçã­o.

Agora, o governo, inconforma­do com as seguidas derrotas, conta com o STF para emparedar empresas que já haviam se planejado conforme o regime referendad­o pelo Congresso. Diante de tamanha instabilid­ade, parlamenta­res buscam medidas paliativas com o objetivo de adiar a reoneração.

Entre as propostas, segundo o senador Efraim Filho (União Brasil-PB), autor da prorrogaçã­o da desoneraçã­o, está a propositur­a de um projeto de lei para adiar por 90 dias a cobrança cheia. Há ainda quem alimente esperança de reverter a decisão do STF, como o deputado Domingos Sávio (PL-MG), presidente da Frente Parlamenta­r do Comércio e Serviços (FCS).

Enquanto isso, empresário­s pressionam a Receita Federal a postergar a cobrança e não descartam a convocação de um ato com as centrais sindicais. Acossados, pedem que haja bom senso. Afinal, nada pior para o desenvolvi­mento do País, tão desejado por Lula e Haddad, do que a inseguranç­a jurídica. •

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