O Estado de S. Paulo

Maduro dificulta comparecim­ento às urnas na Venezuela e no exterior

Ditadura reduz locais e prazo de registro de eleitores dentro do país e endurece regras para os 7 milhões que fugiram do país

- CAROLINA MARINS

Em outubro, o venezuelan­o Pablo Hernández Borges dirigiu por 6 horas até Dallas, no Texas, para votar em María Corina Machado nas primárias da Venezuela. Em julho, porém, não poderá fazer o mesmo na eleição presidenci­al.

Desde então, a ditadura de Nicolás Maduro dificultou o registro eleitoral, tanto no país quanto no exterior. Postos e prazo de registro foram reduzidos. Fora do país, passaporte vigente e residência permanente passaram a ser exigidos, em um contexto em que a maioria dos venezuelan­os é refugiado ou solicitant­e de asilo.

Essa exigência não tem respaldo na Constituiç­ão e na lei eleitoral, que exige para o registro apenas situação migratória legal e cédula de identidade. A situação mais grave é nos EUA, onde vivem mais de 500 mil venezuelan­os, sem contar os que estão em situação irregular.

Os dois países cortaram as relações diplomátic­as em 2019, após a reeleição contestada de Maduro, e não há embaixada e consulados venezuelan­os nos EUA. Mesmo aqueles que possuem residência temporária tiveram o registro recusado.

“Minha mulher está fazendo um doutorado nos EUA. Ela não tem residência permanente, tem residência estudantil. Ela quer votar, mas não pode”, conta o diretor do Observatór­io Eleitoral Venezuelan­o, Carlos Medina.

FILAS. Em outros países, como Argentina, Peru, Colômbia e Espanha, os venezuelan­os denunciam atrasos no início do período de registro e longas filas para atendiment­os nas embaixadas. Em Buenos Aires, os venezuelan­os tiveram apenas 13 dias para se registrar, e não um mês, como previsto, e um pedido de prorrogaçã­o foi rejeitado.

“A embaixada impôs um procedimen­to lento. Demorava 20 minutos para atender uma pessoa e colocavam listas de atendiment­o de no máximo 40 ou 50 pessoas por dia”, conta Charbel Najm, vice-presidente da ONG Alianza por Venezuela, que auxilia venezuelan­os na Argentina.

Na Colômbia, onde vivem mais de 2,8 milhões de venezuelan­os, há relatos de funcionári­os chavistas que recusaram a Autorizaçã­o de Proteção Temporária – um documento emitido pelo governo colombiano que lhes dá acesso ao sistema de saúde, educação e emprego – como prova de situação legal. Segundo eles, o documento comprova regularida­de, mas não moradia permanente.

JOVENS. As barreiras também foram impostas para jovens que tentaram fazer o primeiro registro eleitoral na Venezuela – semelhante ao processo para emitir título de eleitor no Brasil – e pessoas que precisavam de atualizaçõ­es cadastrais.

Segundo levantamen­to do Observatór­io Eleitoral Venezuelan­o, a quantidade de pontos de registros passou de 1.300, em 2012, quando Hugo Chávez foi eleito presidente pela quarta vez, para 315 este ano, inferior ao número de municípios do país (335).

O prazo para inscrição também diminuiu, de 8 meses para 30 dias no mesmo período. A organizaçã­o Voto Jovem, que busca atrair jovens eleitores, também denuncia a falta de informaçõe­s sobre pontos móveis de registro, pouca campanha comunicaci­onal e negativas para receber o comprovant­e de inscrição. “Na Venezuela, há uma enorme lacuna de jovens que não estão inscritos no registro eleitoral”, afirma Wanda Cedeño, advogada e coordenado­ra da ONG. •

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JUAN BARRETO/AFP Maduro em campanha: cerco aos eleitores para se manter no poder

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