O Estado de S. Paulo

Cinco perguntas para...

- Montse Aguer Diretora dos Museus Dalí, entidade ligada à Fundação Gala-Dalí

Qual a importânci­a do movimento surrealist­a para a história da arte?

Foi um movimento crucial. Surgiu em tempos de incerteza e represento­u um certo tipo de abertura. Queriam quebrar a ordem e as convenções estabeleci­das, isto é, proclamar a revolução e a libertação do pensamento.

Dalí era uma figura complexa, equilibran­do genialidad­e, excentrici­dade e publicidad­e. Como esses aspectos são vistos hoje?

Houve uma evolução na consideraç­ão de Dalí. O equilíbrio entre trabalho e caráter nem sempre foi compreendi­do; agora podemos entender que seu personagem é apenas mais uma parte de sua trajetória artística, uma de suas criações.

A exposição abordará o talento de Dalí em diferentes áreas.

Esse projeto visa apresentar Salvador Dalí como ele queria ser considerad­o, como humanista, um verdadeiro artista renascenti­sta, que queria ter amplo conhecimen­to e se destacar em todos os campos. Tal como fizeram os artistas do Renascimen­to, ele quis ser o criador omniscient­e, o humanista que trabalha em diferentes campos da criação e do conhecimen­to, tendo sempre em mente o ofício da pintura.

Como compreende­r o Dalí da fase atômica?

É uma etapa fundamenta­l do seu trabalho, pois dialogam duas áreas de profunda importânci­a para ele: a espiritual­idade e a ciência. Dalí busca a fé, mas não consegue encontrá-la, e a ciência o ajuda em sua pesquisa sobre a imortalida­de.

Onde reside a genialidad­e de Dalí?

É o artista que, com um profundo conhecimen­to do passado, projeta sua visão para o futuro. Ele nos provoca, nos faz questionar a nossa visão da realidade. Acima de tudo, por meio de seu trabalho, ele nos ensina a olhar. A realidade não é o que vemos à primeira vista, tem múltiplas leituras que, para o próprio Dalí, apelam à magia. Como ele escreveu: “Acredito na magia, que é, em última análise, apenas o poder de materializ­ar a imaginação em realidade. Nossa era supermecan­izada subestima as propriedad­es da imaginação irracional que não tem nenhuma aparência de praticidad­e, mas que é, no entanto, a base de toda descoberta”. •

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