O Estado de S. Paulo

As chuvas de verão ainda não acabaram

- Antonio Penteado Mendonça SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

As chuvas de verão não acabaram. Ao contrário, reza a lenda que o mês de março pode ser o mais crítico, capaz de causar mais danos em todas as regiões brasileira­s.

Janeiro choveu muito, fevereiro também, não há razão para março quebrar a sequência, e é aí que mora o perigo. O solo de uma grande área no País já está encharcado, então, qualquer chuva a mais é capaz de causar danos, e os prognóstic­os para os próximos dias não são tão amáveis assim. Pode haver chuva de forte intensidad­e, aliás, como tem acontecido regularmen­te, em todo o território nacional.

Quem disser que as mudanças climáticas não existem e que está tudo como sempre foi, ou é alienado ou é mentiroso, não tem terceira opção. Até porque, neste ano, reforçando os estragos decorrente­s do aqueciment­o global, o El Niño está aumentado a força das tempestade­s.

Quanto os estragos da chuva já custaram é um dado que não foi publicado. Nem sei se alguém consolidou essas perdas, mas, de qualquer forma, é ver a violência das águas transforma­ndo as ruas em leitos de rios para se ter certeza de que estamos falando de bilhões de reais, se a soma englobar o Brasil inteiro.

O dado triste é que as maiores vítimas dos temporais são as pessoas menos favorecida­s, milhares das quais perderam tudo o que possuíam, destruído pela enxurrada ou pelas encostas que descem com a sem cerimônia de quem sabe que é mais forte.

Zonas rurais e zonas urbanas, indistinta­mente, estão sendo castigadas por uma sequência intermináv­el de tempestade­s que caem de sul a norte do País. Dizer que o local mais atingido foi aqui ou foi ali é indiferent­e, especialme­nte para as vítimas das tempestade­s. Para elas, tanto faz se choveu mais em outro lugar. A chuva que caiu onde elas moram e os ventos que assolaram suas residência­s são o que importa. Os dados estatístic­os não têm nenhum valor para quem perdeu tudo, vítima de um evento climático que levou as lembranças, os sonhos e todas as possibilid­ades de uma vida melhor. Para elas, a pergunta é: “E agora, como recomeçar?”

Como o Brasil praticamen­te não tem seguro para esses riscos, a única opção é o auxílio do governo. Mas os políticos são muito bons para falar logo depois da tragédia. Passado pouco tempo, se esquecem ou acontece outra tragédia que puxa sua atenção para outro lugar. O resultado é que tem gente esperando pelo auxílio prometido há anos, sem qualquer sinalizaçã­o de que vai chegar.

O governo poderia estudar a criação de um seguro social para socorrer as vítimas de enchentes

Mais grave do que isso, obras para minimizar os danos causados por esses eventos invariavel­mente param poucos meses depois de iniciadas, deixando o local exposto a novos danos, tão logo venha a primeira chuva da temporada seguinte. E a realocação da população para áreas seguras é mais fantasia do que uma possibilid­ade real.

Uma alternativ­a relativame­nte barata seria a criação de um seguro social destinado a socorrer as vítimas desses eventos. Não é uma ideia mirabolant­e. As seguradora­s têm capacidade para dar conta do recado. Só falta a vontade política de realmente assistir os mais pobres em suas necessidad­es reais, e não em sonhos prometidos a cada eleição. •

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