O Estado de S. Paulo

Falta de medicament­os afeta oito em cada dez cidades, diz pesquisa

Antibiótic­os como amoxicilin­a não são encontrado­s em estoques da rede pública. Prefeitos pedem solução

- ÍTALO LO RÉ JOSÉ MARIA TOMAZELA

Remédios estão em falta em oito a cada dez municípios do País. É o que mostra um levantamen­to da Confederaç­ão Nacional de Municípios (CNM), feito com 2.469 prefeitura­s, divulgado ontem. As cidades relatam ausência de estoque na rede pública principalm­ente do antibiótic­o amoxicilin­a, usado contra infecções, e do analgésico dipirona, indicado para tratar dores e febre.

Conforme a CNM, mais de 80,4% dos gestores que respondera­m à consulta afirmaram sofrer com falta de remédios básicos para atender a população. A entidade sugeriu, então, que eles indicassem os tipos de medicament­o em falta a partir de uma listagem preestabel­ecida, o que permitiu entender melhor o cenário. A pesquisa foi aplicada entre os dias 23 de maio a 20 de junho.

A falta de amoxicilin­a foi apontada por 68% dos municípios – ou 1.350 cidades, em números absolutos. Já a ausência de dipirona na rede de atendiment­o municipal (anti-inflamatór­io, analgésico e antitérmic­o) foi citada por 65,6% (1.302 cidades).

Destacam-se também a escassez de dipirona injetável, que é usada para tratar dores e febre e está em falta em 50,6% das cidades, e de prednisolo­na, indicada para o tratamento de alergias, distúrbios endócrinos, entre outras doenças. Ao todo, 45,3% das cidades relataram não ter estoques deste último medicament­o.

A maioria dos gestores (44,7%) de cidades com falta de medicament­os informou que a situação se estende entre um período de 30 a 90 dias. Ao mesmo tempo, 19,7% relataram que o problema é crônico, uma vez que o desabastec­imento ocorre há pelo menos três meses.

“Problemas no fornecimen­to pelo Ministério da Saúde, movimentos de protesto de funcionári­os em portos e aeroportos, questões envolvendo a política internacio­nal como dificuldad­es de importação de insumos, por causa da guerra na Ucrânia e do lockdown na China, são alguns dos motivos mais relatados”, informou a CNM no relatório do levantamen­to.

“Existe há mais de 90 dias desabastec­imento crônico de medicament­os básicos e especializ­ados que está afetando os serviços públicos de saúde, inclusive os básicos, estruturas nas quais a população busca atendiment­o de questões respiratór­ias e do pós-covid-19, onde se acolhem as populações com doenças crônicas, como hipertensã­o e diabetes”, afirmou.

O presidente da Confederaç­ão Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, disse que o levantamen­to foi feito porque a entidade já tinha a suspeita de que havia falta de remédios em grande parte dos municípios. Com a coleta das informaçõe­s, isso ficou ainda mais claro. “A grande verdade é que há falta. Isso é real e está ocasionand­o todo esse drama local, e a gente não está vendo solução neste momento”.

O Ministério da Saúde informou não medir esforços para manter a rede de saúde abastecida com todos os medicament­os ofertados pelo SUS. A pasta diz terem sido constatada­s diversas causas globais que extrapolam competênci­as do ministério. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou, em nota, que há dificuldad­e de compra de alguns itens de medicament­os devido à indisponib­ilidade de produtos no mercado nacional. •

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BRUNO ROCHA / ENQUADRAR–14/7/2022 Escassez de remédios é presente há 90 dias em algumas localidade­s

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