Exercitar a compaixão
Seu filho está expressando as consequências da pandemia, seja no comportamento, na saúde física, psíquica e emocional e/ou no aprendizado em geral? Pois saiba que não é pequeno o número de afetados após um ano de pandemia. E pode aumentar com o retorno gradual, quando ele for possível, às escolas e a outras atividades. Podem surgir sintomas de um quadro de ansiedade intensa por tudo o que já passaram.
Henrietta Fore, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), declarou recentemente que diminuiu “o acesso à educação, socialização e serviços essenciais, incluindo saúde, nutrição e proteção”. “Os sinais de que as crianças carregarão as cicatrizes da pandemia nos próximos anos são inconfundíveis.” Precisamos, portanto, fazer o que está ao nosso alcance para buscar atenuar o possível.
Sim, os pais estão ansiosos, temerosos e exaustos por terem tido um grande acréscimo no seu já grande pacote de responsabilidades. Afinal, crianças confinadas em casa dão todo tipo de trabalho imaginável – e os inimagináveis também –, e o ensino remoto dos filhos acrescentou tarefas aos pais com as quais eles não estavam acostumados e, portanto, não tinham experiências acumuladas.
Mas, imagine só: como adultos já temos maturidade – ou deveríamos ter –, recursos pessoais e autoconhecimento suficientes para reagir de modo mais saudável a tantas preocupações e pressões e maior facilidade para expressar as emoções que nos assaltam; sabemos reconhecer a necessidade de pedir ajuda quando necessário e temos já desenvolvido o autocuidado.
E os mais novos? Você já ouviu a expressão “estamos todos no mesmo barco”? Outro dia, li em um texto que estamos sob a mesma tempestade, mas em embarcações bem diferentes. É o caso dos mais novos: eles estão ou à deriva ou em barcos mais frágeis.
É que como as crianças ainda não têm tais recursos, e os adolescentes estão com eles em formação, fica bem mais difícil enfrentar tantas adversidades. Eles precisam muito de nós neste momento, portanto. E como podemos ajudar, considerando nossa condição neste longo período de pandemia da covid-19?
Primeiramente, colocando em ato o autocuidado. Ouvi a mãe de três filhos com menos de 11 anos dizer que ela havia deixado de se cuidar para dar conta de tudo neste momento. Abandonar-se não pode ser uma opção para os pais: para cuidar do outro, é preciso se cuidar! Ter uma reunião com todos da casa para abrir espaço para ouvir os filhos e falar com eles é bem importante. Buscar cumplicidade de todos na difícil tarefa de resistir a tantas dificuldades provocadas pela pandemia pode oferecer aos filhos a possibilidade de ver que não está fácil para os seus pais também.
Organizar os relacionamentos familiares, dar responsabilidades aos filhos de acordo com a idade de cada um deles, relevar as pequenas transgressões e brigas entre eles, limitar o tempo de uso de telas e manter horário de alimentação compartilhada pela família e saudável sempre que possível já ajudam muito. É de extrema importância ainda que a família tenha e mantenha horário para as crianças se recolherem.
Para resolver os impasses que muitos pais enfrentaram no acompanhamento dos estudos remotos dos filhos, diversas famílias encontraram uma boa solução. Pediram a ajuda de um primo mais velho, filho de família conhecida ou estudante mais adiantado para acompanhar o filho sempre que possível, algumas vezes remotamente. “Essa decisão trouxe um oásis em minha vida”, me disse uma jovem mãe. Vamos exercitar nossa compaixão pelos mais novos?
No mesmo barco? Os mais novos estão ou à deriva ou em embarcações mais frágeis