O Estado de S. Paulo

Governo espera R$ 25 bi com venda da Eletrobrás

Secretário diz que valor que Tesouro arrecadará e o que deve ser injetado em conta especial ainda poderão ser alterados pelo Ministério

- Anne Warth /

O governo federal espera arrecadar R$ 25 bilhões com a privatizaç­ão da Eletrobrás, estatal com foco em geração e transmissã­o de energia, e espera que a operação em que a União deixará de ser a acionista majoritári­a da empresa seja concluída até dezembro deste ano.

O valor é maior que os R$ 16,2 bilhões iniciais com os quais o governo contava porque a Medida Provisória enviada ao Congresso na terça-feira incluiu a possibilid­ade de renovação antecipada da hidrelétri­ca de Tucuruí, um dos principais ativos da subsidiári­a Eletronort­e. A usina tem 4 mil megawatts médios de garantia física e sua concessão vence em 2024, mais da metade dos 7,5 mil MW médios das outras usinas da Eletrobrás que também terão os contratos alterados.

O valor deverá ser pago para que a Eletrobrás possa alterar o regime de exploração da energia de suas usinas, de cotas – que cobrem apenas custos de operação e manutenção – para o modelo de produção independen­te – de preços livres. A “descotizaç­ão” poderá ser feita em um prazo entre três e dez anos, mas as premissas do governo enviadas pelo Ministério de Minas e Energia à Eletrobrás e divulgadas ao mercado consideram um horizonte de cinco anos.

O secretário especial de Desestatiz­ação, Desinvesti­mento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse que o valor que o Tesouro arrecadará e o que deve ser injetado na CDE ainda poderão ser alterados pelo Ministério de Minas e Energia, através do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), colegiado de ministros presidido pelo MME.

Mas ele garantiu que o processo não será feito de uma única vez, de forma a reduzir as tarifas rapidament­e em um ano para, logo depois, haver aumento novamente – como ocorreu após a Medida Provisória 579/2012, editada durante o governo Dilma Rousseff.

Mac Cord afirmou que a Eletrobrás também deverá pagar outros R$ 25 bilhões para o fundo setorial Conta de Desenvolvi­mento Energético (CDE), em dez anos, de forma a abater os custos de subsídios embutidos nas tarifas. Isso será feito de forma associada a outro projeto, o PLS 232, já aprovado no Senado e enviado à Câmara, conhecido como novo marco do setor elétrico, que visa a reduzir o volume descontos tarifários embutidos nas contas de luz.

Projetos. “Precisamos trazer racionalid­ade para as tarifas de energia, com reajustes mais próximos da inflação, como era antes da MP 579/2012”, disse ele. “A redução do custo da energia será organizada e estruturad­a”, acrescento­u.

Ainda sobre os valores que deverão ser pagos pela Eletrobrás, Mac Cord disse que não há como aumentar os valores destinados pela Eletrobrás na forma de políticas públicas de apoio às regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Ao todo, serão R$ 8,75 bilhões distribuíd­os ao longo de dez anos, mas os valores serão corrigidos pela inflação. Segundo ele, de outra forma, “o projeto não para em pé”. Ele disse que a maioria dos políticos no Congresso quer direcionar recursos para suas regiões, o que é um movimento legítimo.

O secretário disse que a ação de classe especial (golden share) que o governo vai deter na Eletrobrás vai garantir que a empresa seja uma corporatio­n, com controle pulverizad­o entre diversos acionistas. Segundo ele, a golden share vai proibir alterações futuras no estatuto da companhia que possam flexibiliz­ar o limite de 10% da participaç­ão de cada acionista no capital social da Eletrobrás – como propõe a Medida Provisória enviada pelo governo no dia 23.

Intervenci­onismo. Para Mac Cord, o envio da MP ao Congresso pelas mãos do presidente Jair Bolsonaro é prova do comprometi­mento do governo com a agenda liberal e o programa de privatizaç­ões. Ele disse que não há motivo para acreditar que o general Joaquim Silva e Luna Silva, escolhido por Bolsonaro para presidir a Petrobrás no lugar de Roberto Castello Branco vá descontinu­ar a venda de refinarias ou mudar a política de preços da empresa.

Segundo Mac Cord, as oscilações no mercado sobre as ações da Petrobrás e Eletrobrás são “comuns” pelo fato de serem empresas públicas. “Empresa pública oscila mais que empresa privada. Quem investe precisa ter estômago forte”, afirmou. Para ele, a tendência é de que as ações das companhias se recuperem.

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