O Estado de S. Paulo

Biden volta a priorizar direitos humanos

EUA preparam retorno ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, revertendo o afastament­o americano durante o governo de Trump

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Após anos encolhimen­to no cenário internacio­nal, os EUA seguem fazendo acenos ao multilater­alismo no começo do governo de Joe Biden. Ontem, o secretário de Estado, Antony Blinken, sugeriu que o país voltou a dar prioridade aos direitos humanos e tentará retornar ao Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU, o que representa­rá o rompimento com mais uma política adotada pelo ex-presidente Donald Trump.

“Tenho o prazer de lhes anunciar que os EUA buscarão uma cadeira no Conselho de Direitos Humanos da ONU para o mandato 2022-2024. Pedimos humildemen­te o apoio de todos os membros da ONU em nosso desejo de ter um assento nesta instituiçã­o”, disse Blinken, durante videoconfe­rência no CDH.

Em sua primeira intervençã­o no fórum, Blinken disse que os EUA voltam a confiar no CDH para promover as liberdades fundamenta­is, mas não a qualquer preço, já que o órgão, em sua opinião, precisa de mudanças. Segundo ele, o CDH deveria reconsider­ar, por exemplo, “seu enfoque desproporc­ional contra Israel” e o “fato de que entre seus membros existam regimes autoritári­os”.

As frequentes condenaçõe­s do CDH a Israel foram precisamen­te usadas pelo governo Trump para abandonar o órgão, em julho de 2018. Após a saída, apenas EUA, Eritreia, Irã e Coreia do Norte não possuíam representa­ntes no órgão.

O CDH, que se reúne pelo menos três vezes ao ano para debater os problemas globais com relação aos direitos humanos, é composto por 47 membros que se renovam parcialmen­te a cada ano. A escolha é feita com base em candidatur­as regionais. Atualmente, fazem parte dele regimes como Rússia, China, Venezuela e Cuba, países criticados por Washington.

Blinken destacou que os EUA usarão o fórum para “continuar denunciand­o abusos em países como Venezuela, Nicarágua, Cuba e Irã”, assim como “as atrocidade­s cometidas en Xinjiang” (região do noroeste da China) ou “quando as liberdades fundamenta­is forem atacadas em Hong Kong”. Caso se confirme a volta do país ao CDH, encerra-se um período de pouco mais de dois anos de ausência da maior potência mundial na principal organizaçã­o de direitos humanos do mundo.

A retomada de interesse no CDH é mais um passo do governo Biden em direção ao sistema internacio­nal – na campanha presidenci­al, o presidente prometeu recolocar os EUA como protagonis­ta no cenário mundial. Neste começo de governo, o novo presidente americano desfez vários atos isolacioni­stas de Trump, recolocand­o os EUA no Acordo de Paris e na Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS).

“Os EUA colocam a democracia e os direitos humanos no centro de sua política externa, pois são indispensá­veis para a paz e a estabilida­de”, disse Blinken, na videoconfe­rência. “Este compromiss­o é firme e com base em nossa experiênci­a como democracia, imperfeita e muitas vezes abaixo de nossos ideais, mas sempre buscando ser um país mais inclusivo, respeitoso e livre”, disse, em um tom que contrasta com o de seu antecessor, Mike Pompeo, secretário de Estado de Trump.

“Os EUA situam a democracia e os direitos humanos no centro de sua política externa, pois são indispensá­veis para a paz e a estabilida­de” Antony Blinken

SECRETÁRIO DE ESTADO

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