O Estado de S. Paulo

Festa ‘na caixa’ surfa publicidad­e maior na pandemia

Papelaria customizad­a é tendência para evento em casa e, depois da quarentena, tem fôlego com festas pequenas

- Ana Beatriz Bartolo

O isolamento social provocado pela pandemia do coronavíru­s não impediu as pessoas de celebrarem seus aniversári­os, mesmo que de maneira mais simples. Buscando praticidad­e e customizaç­ão, as “festas na caixa” se populariza­ram nos últimos meses, especialme­nte para eventos do público infantil. Os kits feitos com papelaria personaliz­ada enfeitam o espaço de casa com balões, topos de bolos e acessórios de mesa.

“Em maio, meu movimento triplicou por causa das mães que cancelaram as festas programada­s, mas não deixaram de comemorar a data com o filho”, comenta Paula Loureiro, que trabalha com esse tipo de decoração há 10 anos com a empresa Ateliê Paula Loureiro.

Suas caixas são enviadas para compradore­s de todo o Brasil, que encontram seu ateliê pela divulgação feita apenas em redes sociais, especialme­nte o Instagram e o Pinterest.

Para Elisa Vale, dona da empresa Festa em Caixa, que existe há cinco anos, a comunicaçã­o pelo meio digital fortaleceu a relação de confiança com as suas clientes, que podem acompanhar a personaliz­ação dos itens que

compõem o pacote enviado até suas casas. Elisa conta que seu público-alvo são as mães que desejam participar da produção do evento para o filho de uma maneira prática e econômica.

A analista Durcelice Mascêne, da unidade de Competitiv­idade do Sebrae, explica que a pandemia e o distanciam­ento social foram um marco para a entrada de pequenos vendedores nas redes sociais: “Hoje ou você está no mercado digital ou você está fora do mercado”.

A especialis­ta destaca que o profission­al precisa dominar essas plataforma­s para conseguir se tornar mais competitiv­o e

apresentar a qualidade do produto nas imagens na internet.

Paula trabalhava como designer de moda e Elisa era publicitár­ia. As duas iniciaram seus negócios quando seus filhos eram pequenos, pois observaram nesse ramo da papelaria personaliz­ada uma oportunida­de de conciliar o trabalho criativo com a maternidad­e, fazendo praticamen­te tudo de casa. As caixas possuem um custo inicial de produção baixo, segundo as empreended­oras.

“Eu já tinha um computador, então só comprei uma máquina de corte e a matéria-prima. Não foi um investimen­to alto”, lembra

Paula sobre o seu começo, semelhante ao de Elisa.

As duas concordam que o diferencia­l desse produto artesanal está na exclusivid­ade de cada caixa, que leva o nome do aniversari­ante e pode conter murais de fotos ou recados de pessoas distantes por causa do isolamento social. Elas também apostam em temas autorais em vez de personagen­s famosos.

“Eu evito temas comerciais. Até tenho alguns, mas prefiro não divulgar e não curto fazer, porque eu não tenho a licença para usar suas imagens”, comenta Elisa.

Para a especialis­ta do Sebrae,

esses detalhes são o que valorizam a produção. “É preciso encantar o cliente pela beleza e pela qualidade. O trabalho artesanal vende história e, nesse cenário de ‘novo normal’, ele ganha muito potencial, porque tem a capacidade de trazer o aconchego”, diz Durcelice.

Setor de eventos. A populariza­ção das festas na caixa como uma alternativ­a no setor de eventos para reuniões com poucas pessoas é algo observado por Ricardo Dias, presidente da Associação Brasileira de Eventos Corporativ­os e Sociais (Abrafesta). A crise causada pelo coronavíru­s causou uma queda de 85% no faturament­o do segmento todo no País e cerca de 60% dos negócios pararam completame­nte as suas atividades desde março, de acordo com dados da associação.

“As festas na caixa são uma adaptação momentânea, e os kits foram criados para se adaptar às necessidad­es do mercado, assim como os eventos híbridos (parte presencial e parte digital)”, comenta Dias. “Mas, se forem realizar eventos maiores, com 50 pessoas ou mais, a tendência é voltar como era antes”, prevê o presidente da Abrafesta para quando aglomeraçõ­es forem permitidas novamente.

Manter as festas na caixa como uma opção dentro de um catálogo de serviços para eventos no pós-pandemia é uma estratégia que Manuela Bastos, proprietár­ia da Épic Decorações, pensa em adotar. A empresa já trabalhava com decorações de salões antes da quarentena e adaptou o negócio para começar a produzir as caixas contendo apenas a papelaria personaliz­ada e o mobiliário de mesa, deixando os grandes painéis guardados no acervo.

“Hoje a nossa margem de clientes aumentou mais de 150%. Isso foi uma grande surpresa para nós porque aumentou o nosso público e a nossa produtivid­ade em quantidade e faturament­o. Foi uma possibilid­ade de se redesenhar e criar mais uma via de negócio dentro de algo que já existia”, conta a dona da Épic Decorações.

EU EVITO TEMAS COMERCIAIS. ATÉ TENHO ALGUNS, MAS PREFIRO NÃO DIVULGAR E NÃO CURTO FAZER. EU NÃO TENHO A LICENÇA PARA USAR AS IMAGENS

Elisa Vale

FESTA EM CAIXA

 ?? TABA BENEDICTO/ESTADÃO ?? Papelaria em casa. Elisa Vale, da Festa em Caixa, no quarto que usa para sua empresa: muitas cores
TABA BENEDICTO/ESTADÃO Papelaria em casa. Elisa Vale, da Festa em Caixa, no quarto que usa para sua empresa: muitas cores

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