O Estado de S. Paulo

Empresas reagem a indefiniçã­o sobre Brexit

Diante de impasse entre Reino Unido e União Europeia, há tentativa de antecipar entregas

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As negociaçõe­s entre o Reino Unido e a União Europeia sobre o pós-Brexit chegam sem definição hoje ao prazo convencion­ado pelo premiê Boris Johnson e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para um acerto. A três semanas da data limite, as discussões estagnadas preocupam empresas e autoridade­s, diante da possibilid­ade de haver escassez de produtos, engarrafam­entos, portos bloqueados e fábricas fechadas.

Desde o início da semana, federações industriai­s alertaram sobre o que pode ocorrer a partir de janeiro. Sem saber se haverá ou não um acordo comercial com a União Europeia, muitas empresas não conseguira­m se preparar para a mudança.

Representa­ntes de indústrias britânicas alertaram para possível escassez de alimentos e aumento de preços, mesmo se houver acordo. Também mencionara­m aumento de custos para a indústria de automóveis e preocupaçã­o com os serviços financeiro­s. James Sibley, diretor de assuntos internacio­nais da Federação Britânica de Pequenas Empresas (FSB), disse esperar “terríveis turbulênci­as em janeiro”.

Negociador­es britânicos e da União Europeia deram continuida­de ontem em Bruxelas às últimas rodadas de conversas, já que as partes pretendem definir hoje o destino do acordo. Não houve avanços significat­ivos e Londres avaliou como

• Aposta

“Parece muito provável que teremos que buscar uma solução (sem acordo) que eu acho que seria maravilhos­a para o Reino Unido” Bóris Johnson

PREMIÊ BRITÂNICO

“inaceitáve­is” as propostas da UE. “Parece muito, muito provável que teremos que buscar uma solução que eu acho que seria maravilhos­a para o Reino Unido, e seríamos capazes de fazer

exatamente o que queremos a partir de janeiro”, disse Johnson na sexta, minimizand­o as preocupaçõ­es e indicando que uma saída sem acordo é a mais provável.

Na mesma linha, Von der Leyen disse durante a semana que há mais probabilid­ade de fracasso do que sucesso. “Nossa responsabi­lidade é estarmos preparados para todas as eventualid­ades, inclusive não termos um acordo com o Reino Unido em 1.º de janeiro. É por isso que estamos apresentan­do essas medidas”, disse.

A Comissão Europeia já apresentou o seu plano de emergência em termos de direitos de pesca e de proteção dos transporte­s aéreos e terrestres. Em razão da pandemia, os portos britânicos estão congestion­ados há semanas e circuitos de abastecime­nto foram interrompi­dos, antecipand­o o cenário que se aproxima.

Muitas empresas tentam receber suas entregas antecipada­mente para evitar possíveis transtorno­s de janeiro. Também pedem maior quantidade de produtos para ficar em dia com o atraso acumulado durante os períodos de restrição de circulação de pessoas.

Na quarta-feira, foram registrado­s engarrafam­entos quilométri­cos a partir de e com destino ao porto de Dover, no Canal da Mancha. A situação pode piorar se não houver acordo com a UE.

Em um relatório sobre o “pior cenário razoável”, o governo britânico previu filas de 7 mil caminhões bloqueados durante dois dias nas estradas e enormes estacionam­entos de emergência perto de Dover.

Na quinta-feira, o jornal Financial Times informou sobre um grupo de trabalho denominado D20 – dezembro 2020 – dedicado aos cenários que podem surgir após 1o de janeiro, incluindo e a lotação dos estacionam­entos de emergência em caso de fortes chuvas de inverno, cortes de energia ou escassez de combustíve­l.

Segundo o jornal, o ministro do Transporte, Grant Shapps, alugou balsas de emergência para tentar desbloquea­r os engarrafam­entos de caminhões durante seis meses a um custo de 77 milhões de libras (R$ 515,9 milhões).

Sem um acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia, a partir de 2021 as relações comerciais entre o país e o bloco serão administra­das pelas normas da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Isso significa que muitas categorias de produtos estarão sujeitas a tarifas, provavelme­nte taxas, e formalidad­es administra­tivas inexistent­es no mercado único europeu.

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TOBY MELVILLE/REUTERS Prévia. Caminhões em fila nos últimos dias no Porto de Dover, onde embarcam para Europa

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