O Estado de S. Paulo

• Testes valerão mais 4 meses

Anvisa condiciona novo prazo a uma análise mensal da qualidade do produto; Saúde corre atrás de reagentes para poder utilizá-los

- Mateus Vargas /

Cerca de 7 milhões de testes RT-PCR encalhados no Ministério da Saúde e que começariam a vencer este mês terão vencimento prorrogado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) condiciono­u o uso por mais 4 meses dos cerca de cerca de 7 milhões de testes RT-PCR encalhados no Ministério da Saúde a uma análise mensal da qualidade do produto. Como revelou o Estadão, esse estoque estava em um armazém do governo federal em Guarulhos, na Grande São Paulo, e venceria a partir de dezembro. A agência afirma que se trata de um aval “excepciona­l” para consumo do produto além dos oito meses de validade original.

O órgão considerou o aumento da necessidad­e de testes pelo recrudesci­mento da covid-19 no Brasil e a possível escassez do produto no mercado, além do aval do fabricante para extensão da validade. O número de unidades encalhadas é superior aos cerca de 6,6 milhões de testes desse tipo feitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Considerad­o o produto de diagnóstic­o mais preciso, por encontrar o vírus ativo no organismo, o teste RT-PCR analisa amostras coletadas da nasofaring­e por um cotonete.

O governo de Jair Bolsonaro tinha como meta realizar mais de 24 milhões de exames RTPCR até dezembro, mas não chegou a 30% desse número. Ao todo, a Saúde investiu R$ 764,5 milhões em testes e as unidades próximas a vencer custaram R$ 290 milhões. Na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400.

A Anvisa anunciou o aval para uso do teste durante uma audiência, ontem, na Câmara dos Deputados. A decisão “leva em consideraç­ão a situação epidemioló­gica e a importânci­a da testagem”, disse Cristiane Gomes, diretora da agência.

No começo da semana, a Anvisa aprovou a ampliação da validade do mesmo produto comprado pelo ministério, da marca coreana Seegene. Mas essa extensão vale apenas para as próximas importaçõe­s. O aval para esgotar o estoque do ministério foi dado em paralelo.

No estoque do ministério, cerca de 2,7 milhões de exames vencem em dezembro e outros 3,9 milhões, em janeiro. Esses produtos terão validade estendida até abril e maio de 2021, respectiva­mente. Os Estados também têm centenas de milhares de exames em estoque.

Gestores do SUS, porém, temem que o exame siga ocioso mesmo com a ampliação da validade – e volte a vencer em 4 meses. Isso porque faltam outros insumos para a análise, como reagentes de extração de RNA. O ministério tem reagentes desse tipo suficiente­s para análise de 400 mil amostras e afirma que comprará, no fim desta semana, um reforço para mais 8 milhões de extrações .

Novo contrato. O secretário Nacional de Vigilância Sanitária do ministério, Arnaldo Medeiros, disse aos deputados que os exames devem, sim, ser esgotados. Além desse estoque, o governo tem contrato para receber mais 7,65 milhões de testes RT-PCR da Fiocruz. Essa produção será iniciada quando houver demanda do ministério, comandado pelo general Eduardo Pazuello.

Especialis­tas têm afirmado que os testes não servem apenas para o diagnóstic­o da doença. Eles também são uma estratégia importante para identifica­r e interrompe­r as cadeias de transmissã­o do vírus.

 ?? MINISTERIO DA SAUDE–30/3/2020 ?? Em Guarulhos. Trazido pela Vale, primeiro lote dos testes, de 500 mil kits, desembarco­u no País no final de março.
MINISTERIO DA SAUDE–30/3/2020 Em Guarulhos. Trazido pela Vale, primeiro lote dos testes, de 500 mil kits, desembarco­u no País no final de março.

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