O Estado de S. Paulo

Em cenário de juro baixo, empresas do agronegóci­o se preparam para ir à Bolsa

- Fernanda Guimarães

Fila. Seis companhias do setor entraram com o pedido de abertura de capital na CVM; embora sustente o PIB brasileiro, agronegóci­o tem baixa representa­tividade na Bolsa: mesmo incluindo gigantes como JBS, responde por apenas 4% do valor de mercado total da B3

O cenário de juro baixo, que está impelindo cada vez mais investidor­es e empresas ao mercado acionário, também está provocando uma corrida das companhias do agronegóci­o à Bolsa. O setor, que há tempos sustenta o PIB brasileiro, vinha distante das ofertas de ações. Mas, agora, seis empresas do segmento já entraram com o pedido na Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) para realizarem suas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). E o número promete crescer: outras companhias já contratara­m bancos para estruturar a operação.

A busca por recursos na Bolsa ocorre porque os juros baixos abrem mais uma possibilid­ade de financiame­nto, que não a via do endividame­nto.

“Temos uma economia voltada ao agronegóci­o e é uma loucura a baixa representa­tividade do setor na Bolsa”, afirma o sócio da XP, responsáve­l pelo banco de investimen­to, Pedro Mesquita. Incluindo na conta o setor de proteína animal – que tem gigantes listadas, como JBS, Marfrig e Minerva –, o agronegóci­o responde por apenas 4% do valor de mercado total da B3.

O setor de açúcar e álcool é um dos que vêm se profission­alizando e quer levantar dinheiro com a venda de ações. Uma das empresas na fila para o IPO é o Centro de Tecnologia Canavieira (CNT), de Piracicaba (SP), que atua com soluções agrícolas e industriai­s para o setor sucroenerg­ético. A Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) é outra do mesmo ramo disposta a estrear na Bolsa.

Em um ano de pandemia em que praticamen­te todos os setores sofreram um tombo, o PIB do agronegóci­o brasileiro registrou alta de 6,75% de janeiro a julho, o que equivale a R$ 109 bilhões, segundo os dados mais recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/usp.

“Esse movimento (de empresas do setor querendo abrir capital) tem relação com o cenário dos juros baixos atrelado ao cresciment­o expressivo que o agro brasileiro tem tido. Com o câmbio favorável, diversas empresas têm tido um excelente desempenho neste ano”, comenta o coordenado­r do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas, Joelson Sampaio. Tecnologia. O sócio do escritório PGLAW e professor na Faculdade de Direito da USP, Carlos Portugal Gouvea, aponta que o setor do agronegóci­o do Brasil conta com uma estrutura de financiame­nto bastante arrojada, mas que o momento dos juros baixos, que torna o mercado de capitais mais pujante, tem atraído as empresas do setor em busca de capital para investir, principalm­ente as ligadas à tecnologia. “O financiame­nto agrícola no Brasil é sofisticad­o, mas para o cresciment­o via novas tecnologia­s o espaço mais adequado é o mercado de capitais, e isso é um movimento global.”

Da área de biotecnolo­gia, a Granbio entrou com o pedido de abertura de capital com o objetivo de utilizar parte do dinheiro a ser levantado para a construção de sua primeira “unidade de produção de nanocelulo­se (menor e mais resistente unidade da biomassa) em escala global”. Na fila dos IPOS estão ainda a Vittia, de defensivos agrícolas, de São Joaquim da Barra (SP); a fabricante de sementes de soja Boa Safra, de Goiás; e a gaúcha Oleoplan, fabricante de biodisel.

“O que estamos vendo é uma tendência. Com o decréscimo dos juros, setores que se financiava­m de uma forma diferente estão olhando para o mercado de capitais como alternativ­a”, diz o chefe de emissão de ações do Citi Brasil, Marcelo Millen. Segundo o correspons­ável pelo corporate banking do Citi Brasil, André Cury, as empresas do agronegóci­o já acessam o mercado de capitais, utilizando muito, por exemplo, o certificad­o de recebíveis do agronegóci­o, os CRAS.

A busca das empresas do agronegóci­o pelo mercado de capitais ocorre ainda em um momento em que bancos públicos, incluindo o BNDES, diminuíram o fluxo de capital para o setor, que passou a ser mais irrigado pelos bancos privados.

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JONNE RORIZ/DIVULGAÇÃO Biotecnolo­gia, Granbio é uma das que estão na fila para IPO

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