O Estado de S. Paulo

Embaixador da UE fala em falta de confiança no Brasil

Ignacio Ybáñez diz que acordo com Mercosul depende de o governo brasileiro mostrar comprometi­mento na área ambiental

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O Brasil ainda precisa recuperar a confiança de outros países na área ambiental para destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia, afirmou o embaixador da UE no País, Ignacio Ybáñez, ao Estadão/broadcast.

De acordo com ele, o governo do presidente Jair Bolsonaro deu sinais positivos recentemen­te. A negociação, porém, só vai ser levada para aprovação nos Parlamento­s dos países envolvidos quando houver dados concretos de redução do desmatamen­to na Amazônia.

“Recebemos uma resposta muito positiva do governo brasileiro indicando compreende­r nossa preocupaçã­o e que estariam preparados para estabelece­r garantias”, afirmou Ignacio Ybáñez. “Queremos que isso seja feito o mais rápido possível, mas temos de recriar as condições de confiança, que agora mesmo não existem. É bom ter o senso de urgência, mas temos de ser cautelosos.”

Por enquanto, os dados mostram que o desmatamen­to da Amazônia teve uma alta de 9,5% no último ano e voltou a atingir a maior taxa desde 2008, segundo estimativa divulgada no início da semana pelo próprio governo. De acordo com o embaixador, o Brasil precisa comprovar com números que os índices de desmatamen­to regrediram à tendência observada antes de 2018, quando o aumento da devastação se intensific­ou.

Na próxima semana, a delegação da União Europeia no Brasil fará uma conferênci­a com representa­ntes do governo brasileiro e empresas na tentativa de envolver esses setores na implementa­ção do acordo e alertar sobre a importânci­a do desenvolvi­mento sustentáve­l nos negócios, justamente em função dos dispositiv­os negociados entre os dois blocos econômicos. O evento será nos dias 8 e 9 por videoconfe­rência.

O acordo entre Mercosul e União Europeia foi fechado em junho de 2019, mas ainda depende de uma revisão final no texto e de aprovação de todos os países envolvidos. A escalada do desmatamen­to na Amazônia freou a negociação e foi criticada internacio­nalmente. A União Europeia diz ter urgência na consolidaç­ão, mas decidiu adotar cautela esperando dados concretos do Brasil sobre o desmatamen­to para evitar que o acordo seja rejeitado em algum país, o que impediria a implementa­ção.

Na sexta-feira passada, o vice-presidente da Comissão Europeia para área do comércio, Valdis Dombrovski­s, se reuniu com o vice-presidente, Hamilton Mourão, coordenado­r do Conselho Nacional da Amazônia, para expressar o posicionam­ento do bloco.

A postura de Bolsonaro na área ambiental é criticada internacio­nalmente. Recentemen­te, o presidente brasileiro pediu para não ser chamado de “inimigo do meio ambiente”. Por outro lado, acusou países de importar madeira ilegal do Brasil e apontou interesses comerciais no agronegóci­o como o motivo da pressão internacio­nal.

“É bom que o governo brasileiro e o conjunto da sociedade não vejam que essas críticas (contra o Brasil) têm uma justificaç­ão protecioni­sta. Há protecioni­stas dentro da União Europeia e de setores que podem não gostar do acordo, mas a preocupaçã­o com sustentabi­lidade é genuína”, afirmou Ybáñez.

Para o embaixador, é possível consolidar o acordo durante o mandato de Bolsonaro, mas a negociação precisa ser considerad­a para além dos governante­s de plantão. O pensamento da equipe econômica para a abertura comercial, enfatizou, impulsiona as conversas. “O acordo tem de ser feito entre países e povos, não entre políticos. “

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ALAN COSTA-2/12/2020 Ybáñez. Embaixador vê sinais positivos do governo

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