O Estado de S. Paulo

O agronegóci­o: alavanca para o futuro

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Oagronegóc­io é peça-chave para que o Brasil possa ser celeiro do mundo e guardião da maior biodiversi­dade do planeta.

Em algumas décadas o Brasil passou de importador a um dos maiores exportador­es agrícolas do mundo, em vias de se tornar o maior. Em chocante contraste com a indústria, essa história de sucesso foi calcada no empreended­orismo, boas políticas de crédito e fomento, parcerias público-privadas e pesquisa e inovação de ponta. Não à toa o agro foi o único setor com desempenho positivo na pandemia – literalmen­te a “salvação da lavoura” nacional.

A agropecuár­ia se encontra em um momento crucial da história, dadas as oportunida­des e desafios gerados pelo cresciment­o demográfic­o, inovações biotecnoló­gicas, demandas de sustentabi­lidade e atritos comerciais entre potências como EUA, China e Europa. Em contrapart­ida, as políticas externa e ambiental autodestru­tivas do governo, combinadas à difamação promovida por demagogos e competidor­es internacio­nais, têm provocado distúrbios que ameaçam o desenvolvi­mento do setor.

Assim, foi mais do que oportuno o foco do Summit Agronegóci­o, promovido pelo Estado, no tema Reputação do agro – erros, acertos e exigências aqui e lá fora.

Entre as constataçõ­es positivas, há um consenso de que o agro melhorou a tecnologia, elevou a eficiência e vem reduzindo fortemente a pressão por desmatamen­to ao recuperar áreas degradadas com processos que combinam a redução de gases de efeito estufa com mais produtivid­ade.

Ao mesmo tempo, há uma apreensão geral com os desconcert­os entre o poder público e o agro que produz e preserva. Todas as partes interessad­as concordam que é imperativo implementa­r plenamente o Código Florestal, sobretudo no combate ao desmatamen­to. Além disso, é indispensá­vel mobilizar esforços para a regulariza­ção ambiental e fundiária.

Ante esses desafios, assim como em setores como produtivid­ade, sustentabi­lidade, redução de custos e crédito, há altas expectativ­as em relação às novas tecnologia­s digitais. Mas nesse ponto, a gargalos históricos – como a infraestru­tura deficitári­a de transporte e logística – vêm se juntar novos, como a conectivid­ade no campo. Isso demandará um esforço do poder público para otimizar seus investimen­tos e modernizar quadros regulatóri­os que facilitem a injeção de capital privado.

A pressão por boas práticas ambientais e segurança alimentar de potências geopolític­as e de megablocos de investidor­es só aumentará. É imperativo que o poder público e a iniciativa privada se alinhem para fortalecer a comunicaçã­o em fóruns internacio­nais das conquistas brasileira­s, das quais o Summit apresentou um mostruário condensado, mas substancio­so, como a integração lavoura-pecuária-floresta, matrizes bioenergét­icas limpas, agricultur­a intensiva, melhoramen­to genético e bem-estar animal.

Em especial a pecuária, comumente vista como “o calcanhar de aquiles” da reputação ambiental do agronegóci­o, pode ser uma alavanca transforma­dora. Muitos experiment­os bem-sucedidos comprovam que a pecuária pode não só ser sustentáve­l, como contribuir fortemente para o sequestro de gases de efeito estufa. O desafio para os próximos anos é aprimorar e disseminar essas técnicas em larga escala.

A regulariza­ção ambiental e a regulariza­ção fundiária também são fundamenta­is. Muitos movimentos ambientali­stas, ainda que bem-intenciona­dos, vilanizam todo esforço de reinclusão de produtores com histórico de irregulari­dades ambientais e a regulariza­ção de propriedad­es rurais como um favorecime­nto à grilagem e ao desmatamen­to. Mas é preciso separar o joio do trigo. Sem prejuízo da punição aos criminosos, uma regulariza­ção fundiária bem feita, além de facilitar a fiscalizaç­ão ambiental, pode reintegrar à cadeia produtiva milhões de pequenos produtores e suas famílias, que atualmente trabalham na clandestin­idade e em situação de alta vulnerabil­idade jurídica e social.

O agronegóci­o é provavelme­nte a peça-chave para que o Brasil possa cumprir a sua dupla vocação de celeiro do mundo e guardião da maior biodiversi­dade do planeta. Não se pode poupar esforços para aprimorar suas práticas imperfeita­s e coibir as más – mas é preciso ao mesmo tempo, e com igual ênfase, prestigiar as boas.

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