Espanha enfrenta nova onda de covid-19
Número de novos casos cresce mais rápido que nos EUA e em outros países da Europa
Com a retomada das atividades econômicas, França, Alemanha, Grécia, Itália e Bélgica enfrentam um aumento significativo de casos de covid-19, mas é a Espanha, um dos países mais atingidos pela pandemia logo no seu começo, que lidera o número de novos casos na Europa.
Só na semana passada, de acordo com autoridades de saúde, foram mais de 53 mil novas infecções. Com 114 novos casos por 100 mil habitantes no período, o vírus está se espalhando mais rápido entre os espanhóis do que nos EUA, que lideram em número de mortes e notificação da doença.
A covid-19 também está infectando mais gente na Espanha duas vezes mais rápido do que na França, quase 8 vezes com maior rapidez do que na Itália e no Reino Unido e 10 vezes mais do que na Alemanha.
Os hospitais espanhóis são um reflexo da crise. Ao meiodia de domingo, havia 31 pacientes dentro do principal centro de tratamento do coronavírus em Málaga, cidade com a taxa de infecção por coronavírus com crescimento mais rápido no sul da Espanha. Às 12h15, o paciente 32 chegou em uma ambulância. Meia hora depois, veio o número 33. “Meu cunhado pegou o vírus na primavera”, disse Julia Bautista, administradora aposentada, de 58 anos, que esperava notícias de seu pai de 91 anos. “Lá vamos nós de novo”, afirmou.
A Espanha já era um dos países mais afetados da Europa e hoje acumula 440 mil casos e mais de 29 mil mortes. Depois de uma das quarentenas mais rígidas do mundo, que impediu a disseminação do vírus, o país teve uma das reaberturas mais rápidas. O volta das atividades em grupo – muito mais rápida do que a maioria dos europeus – contribuiu para o ressurgimento da epidemia.
Agora, enquanto outros europeus ponderam sobre como reiniciar suas economias, os espanhóis se tornaram os primeiros indicadores de como uma segunda onda pode acontecer, o quão forte ela pode ser e como pode ser contida. “Talvez a Espanha seja um exemplo do que pode acontecer”, disse o epidemiologista Antoni Trilla, do Instituto de Saúde Global de Barcelona.
Ninguém esperava a segunda onda por pelo menos mais um mês. Os epidemiologistas não sabem ao certo por que ela chegou tão cedo. As explicações incluem um aumento das reuniões familiares, o retorno do turismo em cidades como Málaga, a decisão de devolver a responsabilidade pelo combate ao vírus às autoridades regionais, após a quarentena nacional, e a falta de moradia adequada e cuidados de saúde para os imigrantes.
O aumento também foi atribuído ao renascimento da vida noturna. “Temos esse fator cultural relacionado à nossa rica vida social”, disse Ildefonso Hernández-aguado, ex-diretor-geral de saúde pública do governo espanhol. “As pessoas são próximas. Gostam de se conhecer.”
Enquanto os leitos continuam a encher nos hospitais de Málaga, os moradores seguem se aglomerando em bares ao longo das praias até bem depois da meia-noite. Em alguns, as mesas estavam bem juntas. Na hora que os locais fecham as portas, as pessoas saem para as praias, a maioria sem usar máscaras. Lá, se reúnem em grupos de mais de 20 pessoas – algo normal durante qualquer outro verão espanhol, mas muito maior do que as reuniões de 10 ou menos permitidas por lei.
Os médicos, porém, se mostram menos preocupados agora. A taxa de mortalidade é cerca de metade daquela do auge da crise – caindo para 6,6% em relação ao pico de 12%, em maio. A idade média dos pacientes baixou de 60 anos para 37 anos. Os casos assintomáticos são responsáveis por mais de 50% dos resultados positivos. Além disso, as instituições de saúde se sentem muito mais preparadas.
“Agora temos experiência”, disse a médica María del Mar Vázquez, diretora de um hospital em Málaga. “Temos um estoque muito maior de equipamentos e temos protocolos em vigor. Os hospitais ficarão lotados, mas estamos prontos.”