O Estado de S. Paulo

Despedida reforça discurso político e dá pistas de atuação

- Cláudio Couto CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADO­R DO MESTRADO PROFISSION­AL EM GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS DA FGV-SP

Depois de uma longa trajetória como coordenado­r formal da Operação Lava Jato, acusações de abuso de poder e conluio com o magistrado – todas deixadas de lado pela prescrição resultante da procrastin­ação repetida da análise de seu caso pelo Conselho Nacional do Ministério Público –, Deltan Dallagnol deixa a operação.

As razões apresentad­as dizem respeito a questões familiares – a saúde de sua filha pequena. Porém, a despedida teve o mesmo tom impresso pelo procurador da República à sua atuação no cargo: um discurso político voltado a cativar o apoio popular à operação, apresentad­a por ele como se fosse uma instituiçã­o do Estado em si mesma e não um instrument­o a serviço de uma instituiçã­o, o Ministério Público.

Deltan sinaliza que como procurador e – mais importante – como cidadão, seguirá em sua luta contra a corrupção. É mais importante este segundo papel porque nele Dallagnol poderá fazer política de forma ainda mais desabrida. Quem sabe, como Sérgio Moro, deixando sua posição no sistema de Justiça e entrando de vez na política partidária.

É um desfecho ainda em aberto. Mas o tom dado pelo procurador à sua despedida, mesclando a emotividad­e de pai ao engajament­o de militante, dá boas pistas de para onde deve caminhar.

Ainda faltam dois anos para as eleições de 2022. Nelas, Moro tende a figurar como estrela de primeira grandeza. Que papel terá Dallagnol, seu escudeiro na escalada para a popularida­de?

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