O Estado de S. Paulo

Mesmo com risco menor, é preciso cautela

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A liberação para os cursos livres é vista com cuidado por educadores e médicos. Por um lado, existe a necessidad­e dos pais e das crianças, cansadas do confinamen­to. Além do fato de a exposição ao risco ser menor do que se elas estivessem em aulas regulares. Por outro, há questionam­entos se as atividades podem piorar a pandemia, com crianças assintomát­icas contaminan­do pais e professore­s.

“Há demanda por essas atividades, tanto pelos pais, que precisam trabalhar, quanto pela exaustão que se criou entre as crianças”, diz Silvia Colello, educadora da Universida­de de São Paulo (USP). “A criança que sai para fazer atividade física tem a possibilid­ade de descarrega­r energias, relaxar. Mas temos de assumir que é uma exposição e tem um risco – atenuado pelo número menor de alunos. Mas estranho pelo fato de não ser atividade essencial.”

Já na opinião do infectolog­ista Carlos Magno Fortaleza, do Centro de Contingênc­ia do Coronavíru­s em São Paulo, do governo estadual, chegou-se à conclusão de que os cursos livres oferecem menos riscos e permitem que se faça preparação para a abertura das escolas, por reunirem menos pessoas e por período menor de tempo. “Uma coisa é uma escola abrir em momentos isolados para aula de Inglês. É bem diferente de lotar de alunos o tempo inteiro. Pode haver contradiçõ­es em termos educaciona­is, mas não em termos epidemioló­gicos.”

Já o plano de abrir escolas para reforço em setembro, apresentad­o pelo governador João Doria, não se diferencia dos cursos livres do ponto de vista epidemioló­gico, segundo Fortaleza. “Fala de começo com só 20% da ocupação das classes e revezament­o de horários. É uma proposta sutil e pensada para não prejudicar demais as crianças no momento em que os pais voltam a trabalhar.”

Professor da Faculdade Medicina da Universida­de de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Domingos Alves, por sua vez, acredita que a abertura dessas atividades com crianças pode aumentar as infecções, em cenário que ainda é de alta taxa de contaminad­os. “Todas as evidências das experiênci­as praticadas em nível internacio­nal mostram que o retorno a essas atividades com o número de casos ainda aumentando é um desastre para a saúde pública.”

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