O Estado de S. Paulo

Quem é a Palantir, a mais obscura gigante da tecnologia?

Com contratos com o governo dos EUA, startup deve ter maior abertura de capital da tecnologia desde o Uber

- Cade Metz Erin Griffith Kate Conger

A Palantir Technologi­es está se preparando para a maior abertura de capital de uma empresa de tecnologia desde o Uber, no ano passado. Mas muitos ainda se perguntam: o que essa empresa influente e pouco conhecida faz, exatamente?

Com a oferta de software – e, igualmente importante, equipes de engenheiro­s que personaliz­am esses programas –, a Palantir ajuda as organizaçõ­es a interpreta­r vastas quantidade­s de dados. Ela ajuda a reunir informaçõe­s de diferentes fontes, como o tráfego da internet e registros de celular, e analisa essas informaçõe­s. Essas peças aparenteme­nte díspares são reunidas em um quadro que faça sentido para seus usuários.

Mas podem ser necessário­s muitos engenheiro­s e bastante tempo para fazer com que a tecnologia da Palantir funcione como os clientes esperam. E essa mistura de tecnologia e força de trabalho humana confunde Wall Street no momento de avaliar o valor de mercado da empresa. A Palantir é uma empresa de software, um setor tradiciona­lmente rentável, ou é uma consultori­a, menos lucrativa? Ou seriam ambas as coisas? “Para investidor­es, a empresa é como um cubo mágico”, diz Daniel Ives, da consultori­a Wedbush Securities.

Terrorista­s. Criada em 2003, a Palantir diz que a sua tecnologia é ideal para rastrear terrorista­s, reproduzin­do um boato de

que teria ajudado a localizar Osama bin Laden.

Financiada em parte pela InQ-Tel, braço investidor da Agência de Inteligênc­ia dos EUA, a empresa desenvolve­u sua principal tecnologia de software, batizada de Gotham, pensando em usá-la na CIA.

As tecnologia­s da Palantir também são capazes de localizar imigrantes vivendo nos EUA ilegalment­e – a Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) tem usado o recurso sob ordens da Casa Branca, segundo documentos federais. Nos últimos anos, a Palantir tentou crescer no setor priva

do, atendendo a grandes empresas como Airbus, Ferrari e o banco JPMorgan Chase.

A empresa de 2,5 mil funcionári­os detém uma fatia de 3% de um mercado de análise de dados, que hoje movimenta US$ 25 bilhões, segundo a consultori­a PitchBook.

A Palantir captou mais de US$ 3 bilhões em financiame­nto – investidor­es calculam que seu valor de mercado seja de US$ 20 bilhões, mas a empresa não lucrou desde a sua fundação. Em 2019, a receita da Palantir foi de US$ 742,5 milhões, alta de quase 25% em relação ao ano anterior. Mas a empresa perdeu mais de US$ 579 milhões, prejuízo comparável ao de 2018, segundo documentos divulgados recentemen­te.

Pentágono. O governo dos EUA iniciou uma iniciativa chamada Project Maven para reformular a tecnologia militar do país por meio da inteligênc­ia artificial (IA). Para isso, valeu-se da experiênci­a de mais de 20 empresas, incluindo a Palantir.

No Project Maven, a Palantir ofereceu um software que lida com um vasto volume de imagens de vídeo feitas por drones operados pelo exército e pela Força Aérea. Os especialis­tas em IA usam esse software para desenvolve­r sistemas capazes de identifica­r automatica­mente edifícios, veículos e pessoas.

O The New York Times obteve documentos internos do governo que acusam a liderança do Maven de burlar as regras do Pentágono e favorecer a startup, cujos funcionári­os desenvolve­ram relações de incomum proximidad­e com seus parceiros dentro das Forças Armadas. Os documentos mostram a consideráv­el influência da empresa dentro do governo.

O Departamen­to de Defesa deu início a uma investigaç­ão formal do Project Maven, segundo duas fontes próximas ao assunto que não têm autorizaçã­o para comentá-lo publicamen­te. O resultado ainda é desconheci­do. Um porta-voz do departamen­to de defesa para o Project Maven não quis se pronunciar.

O modelo de negócio da Palantir nem sempre se ajusta aos contratos militares. Embora ofereça uma mistura de software e consultori­a, todos os custos são incluídos em uma única licença de software. Em outras palavras, o trabalho de consultori­a é incorporad­o às taxas de software. Tipicament­e, o governo paga por trabalhos de consultori­a independen­temente das licenças de software.

Isso significa que os clientes pagam por uma tecnologia que ainda não foi desenvolvi­da. Jeff Peters, diretor da Esri, empreiteir­a que presta serviços ao governo, diz: “O modelo de negócios é diferente da maioria das empresas de tecnologia.” /

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PETER DASILVA/THE NEW YORK TIMES) Vigilância. Palantir presta serviço às Forças Armadas

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