O Estado de S. Paulo

PPPs de iluminação geram disputa entre investidor­es

Setor tem 149 processos em andamento – e 34 deles podem ser licitados ainda este ano; nos últimos leilões, deságio superou 60%

- Renée Pereira

Um dos setores mais jovens da infraestru­tura brasileira, o mercado de iluminação pública tem sido palco de grandes disputas entre os investidor­es. Nos últimos leilões, realizados no início do mês, os descontos superaram 60% do valor original – bem acima das licitações passadas. A expectativ­a é que esse movimento continue nas concessões prevista para os próximos meses. Segundo levantamen­to da consultori­a Radar PPP, há 149 processos em andamento no País, sendo que 34 deles podem ser leiloados ainda neste ano.

No total, 38 contratos de iluminação pública foram fechados com a iniciativa privada nos últimos anos e três ainda serão assinados. Esse processo, que prevê a modernizaç­ão da rede de iluminação, teve início em 2010 com um mudança feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na legislação. Até então todos os ativos de iluminação pública eram administra­dos pelas distribuid­oras de energia, afirma o sócio da Radar PPP, Rodrigo Sá.

Com a alteração da lei, que começou a entrar em prática apenas em 2014, a rede foi transferid­a para os municípios, que tiveram de criar alternativ­as para gerir os serviços. Num primeiro momento, as prefeitura­s fizeram contratos com base na Lei 8.666, de licitações públicas. Mas foram as Parcerias Público-Privadas (PPP) que se mostraram mais viáveis.

As concessões entraram no radar dos investidor­es, sobretudo, quando o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal, Internatio­nal Finance Corporatio­n (IFC) e Banco Mundial começaram a fazer as modelagens dos leilões. Esse movimento deu mais qualidade e segurança ao processo, já que muitos municípios não tinham condições técnicas para elaborar os editais, por exemplo.

O banco estatal fez os estudos de três leilões já realizados: Porto Alegre (RS), Teresinha (PI) e Vila Velha (ES) – esse último, ocorrido neste mês, cujo deságio alcançou 62,06%. Só nessas três PPPs o volume de investimen­to é da ordem de R$ 665 milhões. Para o último trimestre do ano, está prevista a licitações de Macapá (AP) e Petrolina (PE), afirma o chefe do Departamen­to de Estruturaç­ão de Parcerias do BNDES, Guilherme Guimarães Martins.

Ele conta que o banco já iniciou estudos para a PPP de Caruaru (PE) e Curitiba (PR). “O setor de iluminação tem um ponto bastante positivo, que é a cobrança da Cosip na conta de luz. Isso fortalece os projetos”, afirma ele. É com a arrecadaçã­o dessa taxa que os municípios remuneram as empresas vencedoras dos leilões, que são responsáve­is pela modernizaç­ão das redes, com instalação de lâmpadas de LED, por exemplo. Ou seja, a receita das concession­árias é praticamen­te garantida.

A Caixa é outra instituiçã­o que tem se empenhado no desenvolvi­mento do setor de iluminação por meio de um fundo de desenvolvi­mento das concessões e PPPs (FEP). Atualmente apoia 21 municípios na estruturaç­ão dos projetos de concessão da rede. Há ainda 133 prefeitura­s habilitada­s para estruturar­em os projetos com apoio do banco, individual­mente ou em consórcios.

Dos leilões ocorridos no início do mês, a modelagem de Aracaju (SE), Feira de Santana (BA) e Franco da Rocha (SP) foi feita pela Caixa. As licitações receberam 14, 11 e 7 propostas, respectiva­mente, demonstran­do o forte apetite dos investidor­es que deram lances com deságios que variaram de 38,75% a 58,7%.

“O que está ocorrendo agora é um movimento fantástico impulsiona­do pelo apoio profissio

nal de BNDES e Caixa, entre outros”, afirma o conselheir­o da Associação Brasileira de Infraestru­tura e Indústrias de Base (Abdib) Miguel Noronha, coordenado­r do Comitê de Iluminação Púbica da associação.

Mercado gigantesco. O potencial de investimen­to do mercado é gigantesco se considerar a quantidade de municípios do País (5.570). Claro que muitos não vão querer transferir a administra­ção das redes para a iniciativa privada e nem todos os ativos vão atrair investidor­es pela falta de viabilidad­e econômica. Ainda assim, os números são promissore­s.

Segundo dados da Abdib – que também oferece aos municípios um guia de boas práticas para PPPs de iluminação, com modelos de edital e contratos padronizad­os –, o Brasil tem hoje 18 milhões de pontos de luz, sendo que apenas 1,5 milhão (consideran­do os últimos leilões) estão sob gestão de concession­árias privadas. Um dos benefícios da transferên­cia da gestão da rede é a redução da conta de luz. Com lâmpadas de LED combinadas com sistemas de gestão e controle integrados, por exemplo, pode haver uma redução de 50% do consumo de energia dos sistemas de iluminação pública.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-15/02/2019 Vantagens. Parcerias trazem atualizaçõ­es que costumam reduzir custos da iluminação

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