O Estado de S. Paulo

Rombo pode superar R$ 800 bilhões neste ano, afirma Mansueto

Previsão anterior era de déficit público de R$ 708 bilhões; já há projeções de resultado negativo de R$ 900 bi

- Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA

O governo pode registrar neste ano um rombo superior a R$ 800 bilhões, admitiu ontem o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Em sua última estimativa oficial, o Ministério da Economia calculava um déficit primário do setor público de R$ 708,7 bilhões em 2020.

Ontem, Mansueto, que está de saída do governo e deve ira para a iniciativa privada após um período de quarentena, disse que uma projeção de rombo na casa dos R$ 700 bilhões seria

“otimista”. Economista­s e a Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado já projetam um déficit até maior, passando dos R$ 900 bilhões.

Diante da situação das contas, Mansueto destacou a necessidad­e de manter o compromiss­o com o teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação e hoje funciona como uma espécie de “superâncor­a” para sinalizar compromiss­o com o ajuste.

Segundo o secretário, mudar a Constituiç­ão para flexibiliz­ar o teto “está fora de cogitação”. “Se o governo não conseguir resistir à pressão (contra o teto), isso pode elevar juro, risco país, aumentar período de restrição, carga tributária”, alertou.

Ele ressaltou que o teto de gastos impede a manutenção de gastos emergencia­is deste ano em 2021, a não ser que eles sejam incluídos no Orçamento e devidament­e compensado­s. Do contrário, seria preciso mudar a Constituiç­ão. “Se não respeitar o teto, vai ser pior”, advertiu o secretário, em videoconfe­rência promovida pelo site Infomoney.

Mansueto disse ainda que a crise atual não é só de liquidez, é de solvência também. “Não sabemos quais empresas vão sobreviver e como será comportame­nto de consumidor”, afirmou.

Janela. O governo tem uma janela de dois ou três anos para fazer reformas e recolocar o País na trajetória de cresciment­o, avaliou Mansueto. Ele reconheceu que nem todas as reformas necessária­s serão aprovadas neste governo, mas destacou a importânci­a de não desperdiça­r a oportunida­de, sob risco de assistir a uma piora na perspectiv­a do País.

Segundo Mansueto, o impacto da crise na arrecadaçã­o neste e nos próximos anos levará o País a acumular rombos sucessivos nas contas, e o superávit só deve voltar no fim do próximo governo, em 2026 ou 2027. “Cumprir o teto de gastos e fazer reformas serão importante­s para antecipar volta do superávit”, disse.

A janela citada por ele é o período de juros baixos no mundo todo. Em sua avaliação, bancos centrais de países como Estados Unidos e Japão já sinalizara­m com a possibilid­ade de conviver com juros básicos muito próximos de zero nos próximos dois anos. “Provavelme­nte teremos muita liquidez e juro baixo até 2022”, disse.

O Brasil, avalia o secretário, tem uma oportunida­de para sinalizar que dívida sobe até 2025, 2026, e depois cai. “A dívida cresce muito este ano, mas em 2021 fica praticamen­te estável”, afirmou, ressaltand­o que não pode haver retrocesso, como seria uma eventual revisão ou queda do teto de gastos.

“A janela que temos é de dois ou três anos. Acho que reformas necessária­s não serão aprovadas todas neste governo. A lista de coisas que Brasil precisa fazer é muito grande. Só aos poucos vai construind­o consensos”, afirmou.

“Nos próximos dois ou três anos não podemos errar. Se errar, vamos ter muitos problemas à frente. Não podemos desperdiça­r essa janela de oportunida­de como tantas outras vezes a gente desperdiço­u”, disse o secretário.

Mansueto destacou ainda que o atual governo não vai conseguir em nenhum ano cumprir a chamada regra de ouro do Orçamento, que impede a emissão de dívida para bancar despesas como salários.

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ADRIANO MACHADO/REUTERS Austeridad­e. Mansueto vê dificuldad­e em aprovar reformas

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