O Estado de S. Paulo

Ação da polícia pegou Queiroz deitado na cama

Grupo foi montado por promotores e policiais em rede social para coordenar operação; governador Doria parabenizo­u agentes

- Bruno Ribeiro Marcelo Godoy Renato Vasconcelo­s

O ex-assessor parlamenta­r Fabrício Queiroz acordou com a polícia em torno de sua cama, levantou as mãos e mostrou que estava desarmado. Parecia estar com medo. “Ele (Queiroz) não fez nada, não reagiu. Levantou as mãos e falou: ‘Olha, tudo bem. Vocês cumpram a função de vocês, vou me entender com a Justiça do Rio’. Foi ótimo, trouxemos ele para cá”, disse o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, diretor do departamen­to de Operações Policiais Estratégic­as (Dope). Queiroz estava escondido em uma casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia, a 65 quilômetro­s de São Paulo.

A operação que encontrou Queiroz começou a ser desenhada na terça-feira quando o promotor Amauri Silveira Filho, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), da capital, procurou o secretário executivo da Polícia Civil de São Paulo, delegado Youssef Abou Chahin. Amauri havia acabado de receber dos colegas do Rio o mandado de prisão e a informação do endereço de Queiroz.

Os promotores do Rio haviam feito a descoberta sobre o endereço do ex-assessor por meio da análise de fotos e mensagens achadas no celular de Márcia Oliveira Aguiar, mulher de Queiroz. Em uma delas, havia uma foto dele em um churrasco e uma mensagem: “Nós fizemos um churrasqui­nho aqui. Umas garotinhas ‘bacaninhas’ e vimos o Cruzeiro ser rebaixado... O Cruzeiro ser rebaixado tomando uma Corona aqui com limãozinho .... Muito bom!”

Youssef informou apenas duas pessoas sobre o caso: o delegado-geral, Ruy Ferraz Fontes, e o diretor do Dope. O alvo da operação foi mantido em sigilo. Nico designou uma equipe para verificar se existia o endereço em Atibaia passado pelos promotores do Rio e em nome de quem o imóvel estaria registrado. Foi quando os policiais tiveram uma surpresa: o endereço estava em nome de Wassef, advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ) e amigo do pai do parlamenta­r, o presidente Jair Bolsonaro.

Como era curto o prazo para executar o mandado de prisão, os investigad­ores queimaram etapas. “Ficamos com receio de fazer aquilo que chamamos ‘reconhecim­ento’, que é um procedimen­to padrão que adotamos quando a gente vai cumprir uma ordem judicial que não é nossa”, contou o promotor Jandir Moura Gomes Neto, do Gaeco.

Para saber quantos agentes levar e se havia rotas de fuga, a pesquisa foi feita no computador. “Fizemos uma pesquisa em bancos de dados normais, vulgo Google, e pesquisas em bases de dados que nós temos”, afirmou. Além dos agentes, delegados e promotores, representa­ntes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanhar­am a operação, pois não se sabia se o imóvel era ou não usado por Wassef como escritório. Todos se encontrara­m às 4h30 e rumaram em direção ao alvo. Só então os demais envolvidos na operação ficaram sabendo quem iam prender em Atibaia.

Grupo.

Um grupo de WhatsApp foi montado pelos promotores do Rio e de São Paulo, com a participaç­ão dos delegados paulistas para a coordenaçã­o da operação. E foi nele que Nico informou aos colegas que havia achado o Queiroz. Não havia armas na casa. O ex-assessor parecia “agoniado” quando viu os policiais, que cortaram uma corrente para abrir o portão e depois usaram um aríete para abrir a porta da casa.

“Ele havia tomado um remédio e estava dormindo”, contou o delegado Nico. Queiroz ficou surpreso ao saber que sua prisão preventiva havia sido decretada. De acordo com Nico, um caseiro informou à polícia que Queiroz estava havia mais de um ano no imóvel. O ex-assessor disse que fazia compras sozinho e afirmou aos policiais que estava doente. Foi autorizado a levar uma mochila com roupas. Vestiu máscara e boné preto. Para evitar qualquer problema, teve seu cinto retirado da calça.

Youssef deu a ordem aos subordinad­os para que o material arrecadado na casa fosse colocado em um malote – R$ 900 que estavam na carteira de Queiroz, dois celulares e documentos do ex-assessor. Toda a ação foi filmada. O preso foi levado a São Paulo e, depois, transferid­o em helicópter­o da Polícia Civil para o Rio. No WhatsApp, os policiais receberam os parabéns dos promotores cariocas. E, pelo telefone, chegaram os parabéns do governador João Doria (PSDB), transmitid­os pelo secretário da Segurança, general João Camilo Pires de Campos.

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POLICIA CIVIL SAO PAULO Esconderij­o. Casa onde Fabrício Queiroz ficou é simples

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