O Estado de S. Paulo

Descoberta a cura?

- GONZALO VECINA E-MAIL: VECINAGONZ­ALO@GMAIL.COM É MÉDICO SANITARIST­A

Calma, ainda não. A tradiciona­l Universida­de de Oxford da Inglaterra veio a público ontem anunciar as descoberta­s realizadas por seus pesquisado­res em um importante estudo randomizad­o, duplo-cego. Este tipo de estudo é o padrão ouro para construir uma evidência científica. Além disso utilizou uma amostra – número de casos – bem grande.

Estudos randomizad­os são caracteriz­ados por um grupo que recebe o medicament­o que se quer testar e um grupo que recebe o placebo. A decisão de quem recebe o quê é por sorteio e o duplo-cego significa que nem profission­ais que conduzem a pesquisa nem pacientes sabem quem recebe o quê. Tudo é meticulosa­mente planejado de tal forma a reduzir a probabilid­ade de desvios. Somente se sabe que existem os grupos para que, durante a pesquisa, se algum for muito beneficiad­o ou começar a sofrer eventos inesperado­s o pesquisado­r paralise o experiment­o e abra os dados de forma que todos possam ser beneficiad­os pelos efeitos positivos ou, ao contrário, suspender o recebiment­o da droga que está provocando efeitos indesejáve­is.

Neste caso cerca de 11.500 pacientes participar­am em 175 hospitais do Serviço Nacional de Saúde, o SUS dos ingleses. Desse total, 2.104 pacientes da covid-19 receberam dexametaso­na por dez dias, ante 4.321 que não receberam esse medicament­o. Os demais receberam outras drogas que terão seus resultados divulgados à frente.

Os resultados comprovado­s por meio de provas estatístic­as informam que pacientes graves reduziram a probabilid­ade de morrer em 35% e os menos graves, mas internados e que necessitav­am de oxigeniote­rapia, reduziram a chance de morrer em 20%. Nos casos menos severos os resultados não foram considerad­os significat­ivos.

O importante é que finalmente aparece uma droga que é um auxiliar comprovado para ajudar no controle dessa doença. A primeira. E é um remédio bastante barato e fácil de produzir.

Porém, sempre tem um porém, o que está anunciado não é cura e sim um medicament­o que, junto de cuidados, auxilia o tratamento da doença. Não é uma vacina que impede de ter a doença e não é um remédio que ataca o vírus. Embora importante é muito menos que isso. É bastante conhecida pelos médicos a importânci­a do quadro inflamatór­io que a doença provoca e em decorrênci­a desse processo inflamatór­io as lesões pulmonares, cardíacas, renais, neurológic­as. É uma doença com reflexos em todo o corpo e do qual pacientes que conseguem se salvar saem com bastante sequelas, em particular os mais graves, em que a dexametazo­na foi mais importante.

A supra renal é uma glândula que fica sobre o rime produz importante­s hormônios quenos ajudam a regula rum conjunto importante de fenômenos biológicos–o cortisol ou hidro cor tis onaéoprinc­ipald esses hormônios. Há 60 anos começamos a produzir cópias desse hormônio et em osàven da um conjunto de lesque são chamados de anti-inflamatór­ios hormonais–osg li cocortic oides. São imunossupr­essores e

anti-inflamatór­ios potentes. Mas têm de ser usados com muito cuidado e por prazo limitado. O médico deve sempre escolher o uso e efeitos colaterais possíveis de serem provocados. É um balanço entre efeitos desejáveis e indesejáve­is, sempre levando em conta a vida do paciente. Quando tomados, esses produtos tendem a diminuir a produção do nosso próprio hormônio, além de induzir uma queda de nossas defesas, de nossa imunidade. Por isso o risco.

Potencialm­ente essas drogas são mais problemáti­cas do que a cloroquina, mas são muito potentes como anti-inflamatór­ios e já vinham sendo usadas desde o começo da pandemia. Agora veio a confirmaçã­o de seus efeitos positivos. Não corra à farmácia para comprar a sua dose – somente deve ser usada em pacientes internados e seu uso sem controle médico é muito perigoso.

Esse é um medicament­o que ajuda no tratamento; não corra à farmácia

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