O Estado de S. Paulo

‘O fiador do ajuste fiscal é o ministro Paulo Guedes’, diz Mansueto.

De saída do cargo, Mansueto afirma que compromiss­o com controle das contas públicas não muda

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

De saída do governo, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, garante que o compromiss­o da equipe econômica com o ajuste fiscal continua e afirma que o grande fiador dessa agenda é o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mansueto deve deixar o cargo em agosto. Até lá, promete ajudar na “transição” para o seu sucessor.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

• O sr. está saindo do governo? Eu tinha duas decisões para tomar. Vamos entrar na fase de planejamen­to do pós-covid, de retomar as reformas que já estão no Congresso. É a agenda que vai até o fim do governo.

Ou eu decidia sair agora, depois do meio do ano, ou eu achava que tinha que ficar até o fim do governo. Estou muito cansado. Aguentaria até o fim do ano, mas começar a trabalhar nas políticas do pós-covid e sair no fim do ano não era legal. Então nessa fase de discutir o pós-covid já entra o novo secretário.

• O sr. sai quando? Possivelme­nte em agosto. Mas vou continuar ajudando a agenda do governo de reformas. Isso não muda.

• Qual é o perfil que vocês buscam no novo secretário? Há preocupaçã­o sobre quem terá força para dizer ‘não’ a novos gastos. Mas não precisa essa preocupaçã­o. O grande fiador do ajuste fiscal é o ministro Paulo Guedes. Então não muda nada (no compromiss­o do ajuste). O próprio Tesouro Nacional passou por mudanças institucio­nais importante­s nos últimos quatro, cinco anos. Há continuida­de muito grande no Tesouro.

Foram criados, desde 2015, comitês de governança. Tudo isso dá segurança institucio­nal. Então o próximo secretário vai ter posições muito parecidas com a minha, porque a equipe é exatamente a mesma, as notas técnicas não vão mudar.

• Mas qual é o perfil buscado? Quem vai bater o martelo é o Paulo. Temos diversos nomes bons, muitos com experiênci­a em setor público. Mas novamente, quem o Paulo colocar lá vai seguir exatamente o que eu vinha fazendo, que são as diretrizes do ministro da Economia. E ele é muito claro na defesa do teto de gastos.

• Tem motivo de preocupaçã­o? Não. Se fosse a situação que a gente tinha há dez anos, quando tinha pouca coisa institucio­nalizada, em que o secretário do Tesouro e ministro da Fazenda tinham poder de, numa canetada, excepciona­lizar (Estado ou município) para emprestar com garantia da União... Se fosse naquela época, teria motivo para se preocupar. Agora inclusive tem o TCU, que é muito atuante. Para o ajuste fiscal não continuar, primeiro Paulo Guedes não estaria lá e teria de mudar a Constituiç­ão. Com Paulo Guedes lá e a Constituiç­ão, o ajuste fiscal tem de necessaria­mente continuar.

• Depois da quarentena profission­al, para onde o senhor vai? Não tenho a mínima ideia porque, como ainda estou no governo, não conversei com ninguém sobre isso. Devo ir para o setor privado. Se fosse ficar no setor público, não estaria saindo da Secretaria do Tesouro. Não tenho a mínima ideia do que vou fazer.

• Já dizem que o senhor vai para um grande banco privado... Uma pessoa me mandou: parabéns pelo seu novo emprego com o nome de uma instituiçã­o. Eu disse: que bom que vou ter um emprego que nem sabia ainda.

• Quais são os principais desafios para o seu sucessor?

Os mesmos que eu tinha. O problema que temos no País de fazer os ajustes é atividade normal na democracia: temos de comunicar problemas, ajudar no convencime­nto e partir para o bom debate político.

• A IFI vai divulgar um relatório apontando para aumento no rombo e na dívida. Qual a importânci­a de manter o ajuste?

Muito do ajuste vai depender dos próximos dois anos. Temos uma janela de juros baixos, até porque internamen­te a inflação está muito baixa. Ganhamos um período para colocar a casa em ordem. Vai depender muito da velocidade de recuperaçã­o da economia, porque influi na arrecadaçã­o. Recuperand­o a arrecadaçã­o e fazendo as reformas, a estabiliza­ção vem antes. O fundamenta­l é aprovar as reformas na janela de juros baixos. O futuro não está dado. Vamos precisar até o fim do governo conseguir fomentar o bom diálogo político pelas reformas. Temos que nos esforçar para ajudar essa agenda de reformas.

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ADRIANO MACHADO/REUTERS Receita. Mansueto recomenda aproveitar ‘janela de juros baixos’ para aprovar reformas

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