‘EMPRESAS DEVEM PATROCINAR’
Na opinião de Ricardo Levisky, presidente e fundador da Levisky Legados – empresa especializada em consultoria de sustentabilidade financeira – a crise provocada pela covid-19 “escancara” o despreparo das instituições culturais brasileiras no que diz respeito a pensamento de longo prazo e construção de caixa. “Sempre foi uma estrutura de buscar recursos para viver o ontem e o hoje, mas nunca o amanhã”. Para ele, o momento é de mobilização tanto do governo quanto da sociedade civil, para que orquestras, museus e teatros não sejam ainda mais afetados pela pandemia. Leia abaixo a conversa com a coluna.
Como você avalia a adaptação das instituições culturais à crise da covid-19?
Do ponto de vista de comunicação e de posicionamento, as instituições foram muito ágeis. Estão tentando se adaptar e criar projetos que transitam no meio digital e também se posicionando para tornar a vida das pessoas durante a quarentena menos angustiante. Neste período também existe a questão psíquica, a questão da alma.
Você acha que os museus e orquestras brasileiros estavam preparados financeiramente para o tipo de dificuldade que estamos tendo agora?
Sem dúvida alguma, não. Essa crise escancara e evidencia a necessidade do País de se estruturar e se organizar na área de cultura com visão de longo prazo. O Brasil e as instituições culturais brasileiras nunca tiveram uma estrutura voltada para o longo prazo, estão sempre buscando recursos para viver o ontem e o hoje, mas nunca o amanhã.
Quais seriam as medidas de prevenção?
O endowment, por exemplo, prega justamente que plantemos uma semente, que é a semente financeira do fundo de reserva. Esse lastro financeiro serve para que as instituições suportem momentos de turbulência como este.
A situação de instituições culturais públicas e privadas difere muito?
Neste contexto, duas frentes precisam participar com força: o governo e a sociedade civil. Por trás das orquestras, dos museus, você tem milhares de pessoas trabalhando. Essas pessoas precisam de um lastro, o governo não pode abandoná-las.
E a sociedade civil?
Esse sentimento de comunidade e doação precisa ser explorado para todas as áreas, principalmente a cultura. É um momento oportuno para que as pessoas apoiem os museus das suas cidades, as orquestras, as suas companhias de dança. Elas precisam continuar existindo, porque fazem parte da identidade de cada região.
Qual seu prognóstico para o setor cultural depois da crise?
A situação é muito delicada. O governo tem que fazer sua parte, manter essas estruturas fortalecidas. No caso das instituições privadas, como a grande maioria delas não possui fluxo de reserva, a força do patrocínio privado é fundamental para ajudá-las a retornarem à normalidade pós-pandemia. É um momento importante e empresas devem patrocinar.