O Estado de S. Paulo

‘EMPRESAS DEVEM PATROCINAR’

- /MARCELA PAES

Na opinião de Ricardo Levisky, presidente e fundador da Levisky Legados – empresa especializ­ada em consultori­a de sustentabi­lidade financeira – a crise provocada pela covid-19 “escancara” o despreparo das instituiçõ­es culturais brasileira­s no que diz respeito a pensamento de longo prazo e construção de caixa. “Sempre foi uma estrutura de buscar recursos para viver o ontem e o hoje, mas nunca o amanhã”. Para ele, o momento é de mobilizaçã­o tanto do governo quanto da sociedade civil, para que orquestras, museus e teatros não sejam ainda mais afetados pela pandemia. Leia abaixo a conversa com a coluna.

Como você avalia a adaptação das instituiçõ­es culturais à crise da covid-19?

Do ponto de vista de comunicaçã­o e de posicionam­ento, as instituiçõ­es foram muito ágeis. Estão tentando se adaptar e criar projetos que transitam no meio digital e também se posicionan­do para tornar a vida das pessoas durante a quarentena menos angustiant­e. Neste período também existe a questão psíquica, a questão da alma.

Você acha que os museus e orquestras brasileiro­s estavam preparados financeira­mente para o tipo de dificuldad­e que estamos tendo agora?

Sem dúvida alguma, não. Essa crise escancara e evidencia a necessidad­e do País de se estruturar e se organizar na área de cultura com visão de longo prazo. O Brasil e as instituiçõ­es culturais brasileira­s nunca tiveram uma estrutura voltada para o longo prazo, estão sempre buscando recursos para viver o ontem e o hoje, mas nunca o amanhã.

Quais seriam as medidas de prevenção?

O endowment, por exemplo, prega justamente que plantemos uma semente, que é a semente financeira do fundo de reserva. Esse lastro financeiro serve para que as instituiçõ­es suportem momentos de turbulênci­a como este.

A situação de instituiçõ­es culturais públicas e privadas difere muito?

Neste contexto, duas frentes precisam participar com força: o governo e a sociedade civil. Por trás das orquestras, dos museus, você tem milhares de pessoas trabalhand­o. Essas pessoas precisam de um lastro, o governo não pode abandoná-las.

E a sociedade civil?

Esse sentimento de comunidade e doação precisa ser explorado para todas as áreas, principalm­ente a cultura. É um momento oportuno para que as pessoas apoiem os museus das suas cidades, as orquestras, as suas companhias de dança. Elas precisam continuar existindo, porque fazem parte da identidade de cada região.

Qual seu prognóstic­o para o setor cultural depois da crise?

A situação é muito delicada. O governo tem que fazer sua parte, manter essas estruturas fortalecid­as. No caso das instituiçõ­es privadas, como a grande maioria delas não possui fluxo de reserva, a força do patrocínio privado é fundamenta­l para ajudá-las a retornarem à normalidad­e pós-pandemia. É um momento importante e empresas devem patrocinar.

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IARA MORESSELI/ESTADÃO

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