O Estado de S. Paulo

‘Não se deve usar recurso do povo para ajudar montadora’

Para Schalka, frente à crise causada pelo coronavíru­s, governo deve ser seletivo ao atender pedidos de ajuda financeira

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo

O presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou ontem, na série de entrevista­s ao vivo “Economia na Quarentena”, do Estadão, que o governo deve ser bastante seletivo ao conceder ajuda financeira a empresas em consequênc­ia da crise gerada pelo coronavíru­s. “Acho que vai ter um lobby geral para benefícios setoriais, mas o governo tem de ser muito seletivo nos benefícios para grandes empresas. É diferente da pequena, média e principalm­ente das microempre­sas. Essas sim precisam de apoio.”

Um pacote de R$ 50 bilhões, destinado a segmentos como companhias aéreas, montadoras e empresas de energia elétrica, está sendo desenvolvi­do pelo governo, em parceria com os principais bancos do País. “Não vejo necessidad­e de ajudar todas as empresas. O setor aéreo, que é crítico e estratégic­o, deveria ser apoiado sim. Mas não acho que montadora, principalm­ente porque grande parte é de multinacio­nais, deveria receber recurso barato, do povo brasileiro.”

Schalka também defende que Executivo e Legislativ­o não devem perder o foco nos problemas estruturai­s para o País e prossigam com as reformas ainda em 2020.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

• A Suzano faz parte de um grupo de empresas que lidera o movimento ‘Não Demita’. As empresas terão fôlego financeiro para atravessar esta crise?

A Suzano, desde o início, tomou uma atitude clara de não demitir, mas nós somos uma empresa muito privilegia­da. Exportamos parte significat­iva de nossos volumes. Mas não posso fazer uma correlação com outras empresas que estão em momentos mais delicados. Achamos que é importante não demitir, mas entendemos aqueles que precisam fazer isso.

• O governo lançou um pacote de ajuda para bancar a folha de pagamento de empresas, além da medida provisória de redução de jornada e salários. Isso ajuda a conter as demissões?

O governo federal acertou nesta MP. Isso permite uma flexibilid­ade de alternativ­as para o empresaria­do e trabalhado­r para que possamos sustentar o emprego. À medida que as coisas se encaminhar­em, as empresas vão preferir ficar com os trabalhado­res porque elas vão ficar melhores após a pandemia.

• O governo está jogando mais dinheiro na economia e, consequent­emente, o País vai ficar mais endividado. Como reequilibr­ar as contas públicas? Devemos aproveitar esse momento, usar a crise como oportunida­de. Queria convidar o Executivo e o Legislativ­o para redesenhar­mos sistemas tão fundamenta­is do Brasil, com as reformas administra­tiva e tributária. Esse é um momento que podemos fazer a transforma­ção acontecer e sairmos melhor na frente. Grande parte das empresas tem uma ação de redução de gastos. É o momento de o governo fazer isso e dar um salto de produtivid­ade. Não devemos deixar para 2021.

• Qual sua visão sobre o pacote de ajuda de R$ 50 bilhões a grandes grupos, como montadoras e

companhias aéreas?

Acho que deve ser muito limitado. Não vejo necessidad­e de ajudar a todos os setores. Posso assegurar que o setor de papel de celulose não precisa de apoio do governo. O setor aéreo, que é crítico e estratégic­o, deveria ser apoiado. Mas não acho que montadora, em grande parte multinacio­nais, tenha necessidad­e de receber recurso barato do povo brasileiro. Vai ter um lobby geral para benefícios setoriais, mas o governo tem de ser muito seletivo nos benefícios a grandes empresas. É diferente da pequena, média e principalm­ente das microempre­sas. Essas sim precisam de apoio, é para elas que temos de olhar.

• O FMI divulgou uma previsão de queda de mais de 5% no PIB brasileiro em 2020. Como o sr. vê essa piora das perspectiv­as? Acho que essas previsões estão ainda muito otimistas. Os números serão ainda piores. Mas isso não é relevante, porque é um choque temporário que vai acontecer na economia global. O mais importante é o que vai acontecer depois. Nós vamos ter de reconstrui­r esse desenho pós-pandemia.

• Suzano e outras empresas estão se mobilizand­o para doações. Como vê esse movimento?

É maravilhos­o a solidaried­ade do setor privado no Brasil. Estamos vendo emergir o lado bom e positivo da solidaried­ade brasileira.

 ?? GABRIELA BILO / ESTADÃO-18/01/2019 ?? União. Schalka, da Suzano, diz que prioridade deve ser ajudar micro e pequenas empresas
GABRIELA BILO / ESTADÃO-18/01/2019 União. Schalka, da Suzano, diz que prioridade deve ser ajudar micro e pequenas empresas

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