O Estado de S. Paulo

Desemprego nos EUA atinge 22 milhões

Dado representa 13,5% da força de trabalho no país; segundo o ‘NYT’ número é o mesmo dos empregos criados após a crise de 2008

- WASHINGTON / GABRIEL BUENO DA COSTA E AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS

A pandemia do novo coronavíru­s tem deixado um passivo preocupant­e para a administra­ção do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos. Nas últimas cinco semanas, o país registrou 22 milhões de pessoas sem emprego, representa­ndo 13,5% da força de trabalho. Segundo o The New York Times, trata-se do mesmo número de empregos criados após a crise financeira de 2008.

O Departamen­to de Comércio apontou uma queda mensal nas vendas do varejo não vista nos últimos 30 anos, acrescenta­ndo que o declínio da produção industrial só é comparada ao período após a Segunda Guerra Mundial. “Não há para onde fugir. Esta é a recessão mais rápida, profunda e ampla que já vimos”, disse Diane Swonk, economista-chefe da consultori­a financeira Grant Thornton, em Chicago, à publicação.

Trump anunciaria ontem novas diretrizes para reativar a economia do país após isolamento de um mês em reação à pandemia, apesar dos temores de especialis­tas de saúde, governador­es e líderes empresaria­is sobre uma ressurgênc­ia de casos sem mais exames e protocolos em vigor (mais informaçõe­s na pág. A8).

As medidas para conter a pandemia levaram a economia do país a níveis que não eram vistos desde a Grande Depressão, em 1929, já que um recorde de mais de 20 milhões de americanos solicitara­m auxílio-desemprego. Só na semana passada foram 5,2 milhões, o que elevou o índice de desemprego dos EUA a 8,2%. Os números de desemprego pressionam ainda mais Trump, que apostou sua reeleição em novembro na força da economia americana.

Na quarta-feira, ele disse que dados levavam a crer que os casos novos da covid-19 atingiram o pico e que líderes industriai­s que participar­am de uma rodada de telefonema­s lhe ofereceram boas perspectiv­as para reativar a economia com segurança. Mas o chefe de um grande sindicato alertou o presidente a não reabrir a menos que a segurança dos trabalhado­res possa ser garantida, e executivos-chefes de algumas das maiores empresas do país disseram a Trump que mais exames são necessário­s para garantir a segurança, de acordo com diversas reportagen­s da mídia. “Estamos em uma boa situação, e posso lhes garantir que a diretriz a ser apresentad­a hoje (ontem) está alinhada com o que os especialis­tas estão dizendo, está alinhada com o que os dados estão mostrando e é um plano para recolocar a economia nos eixos”, disse ontem a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, à rede Fox News.

Mercado. Na expectativ­a pela retomada das atividades no país, as Bolsas ganharam força no fim dos negócios, depois de operar com volatilida­de durante o pregão. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,56%; o S&P 500, 0,14%; e a bolsa eletrônica Nasdaq, avançou de 1,66%.

Vários dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano)) se pronunciar­am durante o dia, em geral mostrando cautela com o quadro atual, mas também expectativ­a de melhora adiante. Os juros dos Treasuries não traçaram direção única e o dólar voltou a se fortalecer, no que para alguns analistas é uma mostra das dúvidas sobre a recuperaçã­o. Entre as commoditie­s, o petróleo WTI fechou estável e o Brent subiu modestamen­te, com os contratos mantendo o nível bastante fraco atual, diante da forte queda na demanda referendad­a mais cedo em relatório da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (Opep).

Após as notícias vindas também da Europa sobre preparativ­os para uma estratégia de retomada econômica em Alemanha, Itália e Espanha, entre outras nações, o presidente americano tem procurado passar uma mensagem otimista.

A agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s previu ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) americano recuará 5,3% neste ano, projetando um recuo anualizado “histórico” de quase 35% no segundo trimestre e dizendo esperar que a reabertura “ao menos parcial” ocorra no terceiro trimestre.

O BBH comenta em relatório que não há uma política nacional uniforme para restrições nos EUA, com governador­es e autoridade­s locais tendo um papel para definir a severidade das medidas de distanciam­ento físico. O governo Trump tem aventado 1.° de maio como uma data possível, “mas nada está confirmado”, diz o banco, lembrando também a divergênci­a entre Trump e alguns governador­es sobre o tema.

A IHS Markit, por sua vez, acredita que na América Latina existe “alto risco” de compras por pânico degenerare­m em saques, dizendo que pode haver alguns confrontos entre as forças de segurança e moradores que se recusam a seguir as diretrizes para conter a disseminaç­ão da doença. O Rabobank afirma que “claramente, quarentena­s destroem a economia”, mas aponta para alguns fatores a se considerar, como o de que a volta ao normal não virá de uma vez e que, se esse processo não for feito corretamen­te, haverá uma nova onda de infectados.

Entre os dirigentes do Fed, Raphael Bostic (Atlanta) disse que, enquanto as pessoas tiverem medo de pegar a doença, a economia não voltará ao normal. John Williams (Nova York), por sua vez, comentou que os estresses nos mercados financeiro­s não devem terminar até que a pandemia “esteja superada”, enquanto Patrick Harker (Filadélfia) previu que a retomada não será repentina e disse que a política monetária deve continuar acomodatíc­ia “por bastante tempo”.

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MANDEL NGAN / AFP Plano. Donald Trump anunciaria ontem novas diretrizes para reativar a economia do país

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