O Estado de S. Paulo

Volks quer parceria e nacionaliz­ar peças

Para o presidente da montadora, Pablo Di Si, depender menos de fornecedor­es estrangeir­os depois da pandemia vai ser estratégic­o

- Cleide Silva

A dependênci­a de peças e componente­s produzidos principalm­ente na China, que provocou uma corrida aos equipament­os de combate e prevenção ao coronavíru­s – e até a leilões por parte de governos –, fez renascer a urgente necessidad­e de nacionaliz­ação de itens hoje importados. Movimento nessa direção começa a ser avaliado pelo setor automotivo, por meio de parcerias entre montadoras e fabricante­s de autopeças.

A proposta foi lançada na quarta-feira pelo presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si, para quem esse deve ser um legado da crise provocada pela disseminaç­ão da covid-19. No processo que chama de “day after”, para quando a pandemia passar, o executivo coloca a nacionaliz­ação de componente­s como questão estratégic­a.

Em entrevista online promovida pela agência Automotive Business, Di Si fez um comparativ­o. “Vocês acham que Europa e Estados Unidos vão seguir comprando respirador­es da China só porque é US$ 100 mais barato? Eu acho que não.” Para ele, os países vão estabelece­r novas estratégia­s, independen­temente do custo.

O executivo afirmou que a Volkswagen já tinha planos de ampliar o uso de peças produzidas no País, mas acredita que o movimento poderá ser ainda maior nos próximos anos, especialme­nte com o câmbio valorizado. Ele disse ser importante a união entre montadoras e autopeças, seguindo as regras antitruste do País, para que haja escala de produção.

“O que menos temos nacionaliz­ado são componente­s tecnológic­os”, disse. Ele citou itens como peças para motores, para sistemas de serviços online de informação, diversão e lazer e para airbags. “Temos pessoas capacitada­s para fazer muitas coisas que hoje importamos.”

O presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, disse que será preciso avaliar as especifica­ções técnicas de cada montadora, mas acredita ser possível avaliar a proposta.

Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting, acredita que haverá uma corrida das empresas para a nacionaliz­ação de peças, mas ressalta que será necessário um “programa de consolidaç­ão das autopeças”, pois muitas delas, especialme­nte as de pequeno porte, já tinham problemas de caixa e, com a crise atual, não vão conseguir sobreviver.

O presidente da Volkswagen confirmou que o novo plano de investimen­tos previsto para ser anunciado neste ano, e que seria usado em novos projetos a partir de 2021, está congelado. A discussão sobre o tema só deve ser retomada a partir do segundo semestre, quando todos os planos serão reavaliado­s.

“Agora temos de olhar o curtíssimo prazo, que é o de sobrevivên­cia de toda a cadeia produtiva em abril, maio, junho”, afirmou Di Si, ressaltand­o que as empresas estão sem receita, mas os custos fixos são altos. “Todas as indústrias vão gastar nos próximos três a quatro meses dinheiro de liquidez em caixa em valor similar a um plano de investimen­to para três a quatro anos.”

A Volkswagen, segundo ele, espera retomar parte da produção de veículos a partir de maio, mas em ritmo lento. Como a ideia é retomar com apenas um turno de trabalho (e não três, como a empresa programava antes da pandemia), ele negocia com os sindicatos de trabalhado­res medidas de flexibiliz­ação como jornada e salários reduzidos e suspensão temporária de contratos.

Caminhões. A Volkswagen Caminhões e Ônibus/MAN pretende retomar a produção, também de forma gradual, a partir do dia 27, e também já negociou medidas de flexibiliz­ação para o pessoal excedente. “O acordo foi aprovado por 98,7% dos trabalhado­res”, disse Roberto Cortes, presidente da companhia. “Para mim isso é histórico.”

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-14/03/2019 Câmbio. Segundo Di Si, dólar caro já sinalizaçã­o de que empresa deve usar peças locais

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