Nos EUA, brasileiros encaram o vírus
Com campeonato suspenso e sem poder sair de casa, jogadores usam a criatividade para suportar a quarentena
Compras de supermercado pela internet, preocupação com a angústia dos filhos, treinos físicos em casa e colaboração com outros compatriotas. Formando o terceiro maior contingente de estrangeiros no futebol dos Estados Unidos, os brasileiros têm procurado alternativas para sofrer menos enquanto estão enclausurados em casa no país que é o epicentro do novo coronavírus no momento.
A liga local, a Major League Soccer (MLS), tem 20 jogadores brasileiros. Apenas canadenses e argentinos têm presença maior, entre os estrangeiros, nos 26 clubes do torneio. Os últimos jogos da competição foram disputados em 7 de março e desde então os brasileiros convivem com uma sensação estranha. Se antes a mudança para os Estados Unidos significava tranquilidade financeira e crescimento esportivo, a pandemia agora transformou o país em motivo de preocupação.
Um dos mais afetados é o atacante Héber, do New York City. Há um ano no país, ele mora justamente na cidade mais atingida pelo coronavírus. São mais de 200 mil casos. Ao Estado,o jogador contou que comprou uma esteira para manter a forma física e se esforça para se distrair, já que mora sozinho e não pode sair de casa.
“Aproveito para curtir as lives feitas no Brasil de música sertaneja. Isso ajuda bastante a relaxar”, disse. Um desafio para ele tem sido encontrar produtos de limpeza nos mercados.
O atacante faz compras online de alimentos em lojas brasileiras e recebe em casa produtos como feijão e carne. “Todos os dias eu vejo a atualização do número de casos. O que assusta é às vezes você ver um vídeo ou até passar em locais turísticos como Central Park, Times Square ou Manhattan e ver tudo vazio”, contou Héber.
O volante Everton Luiz, do Real Salt Lake City, tem atenção extra com os dois filhos. Ele e a mulher cuidam para as crianças não ficarem abaladas com o isolamento. “Minha esposa se preocupou em manter o isolamento logo que os casos começaram a aumentar por aqui. Ela comunicou a escola que as crianças já estavam em quarentena antes mesmo de fecharem. Desde o começo nos preocupamos em falar para meus filhos o que está acontecendo, sem alarme”, explicou.
Os brasileiros que atuam no futebol dos Estados Unidos têm feito treinos em casa orientados por vídeos feitos pelos próprios clubes. Trabalhos funcionais e na esteira são os mais utilizados. Quem mora por lá também elogia o cumprimento rigoroso do isolamento social.
“O governador do Estado (de Ohio, Mike DeWine) tomou atitude rápido e as coisas estão bem mais tranquilas. Ele já fechou comércio, escola e tentou evitar ao máximo a aglomeração”, comentou o volante Artur, do Colombus Crew. “Ainda não temos prazo para voltar a treinar nem jogar. Falaram que o campeonato voltaria dia 10 de maio, mas acho pouco provável. Não temos que ter pressa. O esporte fica em um segundo momento agora”, avaliou o jogador revelado pelo São Paulo.
O diretor de futebol André Zanotta, do Dallas, está em outra função esportiva durante a pandemia. O ex-dirigente do Grêmio tem atuado por videoconferência na coordenação da equipe. Entre as tarefas, está a de organizar uma reunião todas as sextas-feiras com os jogadores como forma de manter o elenco unido e diminuir a angústia.
“É preciso ser criativo para manter os atletas ocupados. Buscamos convidados especiais para falar com eles. Já teve nutricionista, o dono do time e devemos trazer um psicólogo”, contou Zanotta. O dirigente e demais representantes de clubes da MLS têm discutido possíveis ações para o campeonato ser menos afetado. O brasileiro tem procurado ficar mais perto dos filhos, fazer cursos online e ajudar os dois compatriotas que jogam no Dallas. O zagueiro Bressan, ex-Grêmio, será pai mês que vem, e o volante Thiago Santos, ex-Palmeiras, se mudou neste ano para os EUA e ainda está se adaptando ao país.
Héber
ATACANTE DO NEW YORK CITY
‘Assusta passar em locais como Central Park, Times Square ou Manhattan e ver tudo vazio’