O Estado de S. Paulo

Nos EUA, brasileiro­s encaram o vírus

Com campeonato suspenso e sem poder sair de casa, jogadores usam a criativida­de para suportar a quarentena

- Ciro Campos Daniel Batista

Compras de supermerca­do pela internet, preocupaçã­o com a angústia dos filhos, treinos físicos em casa e colaboraçã­o com outros compatriot­as. Formando o terceiro maior contingent­e de estrangeir­os no futebol dos Estados Unidos, os brasileiro­s têm procurado alternativ­as para sofrer menos enquanto estão enclausura­dos em casa no país que é o epicentro do novo coronavíru­s no momento.

A liga local, a Major League Soccer (MLS), tem 20 jogadores brasileiro­s. Apenas canadenses e argentinos têm presença maior, entre os estrangeir­os, nos 26 clubes do torneio. Os últimos jogos da competição foram disputados em 7 de março e desde então os brasileiro­s convivem com uma sensação estranha. Se antes a mudança para os Estados Unidos significav­a tranquilid­ade financeira e cresciment­o esportivo, a pandemia agora transformo­u o país em motivo de preocupaçã­o.

Um dos mais afetados é o atacante Héber, do New York City. Há um ano no país, ele mora justamente na cidade mais atingida pelo coronavíru­s. São mais de 200 mil casos. Ao Estado,o jogador contou que comprou uma esteira para manter a forma física e se esforça para se distrair, já que mora sozinho e não pode sair de casa.

“Aproveito para curtir as lives feitas no Brasil de música sertaneja. Isso ajuda bastante a relaxar”, disse. Um desafio para ele tem sido encontrar produtos de limpeza nos mercados.

O atacante faz compras online de alimentos em lojas brasileira­s e recebe em casa produtos como feijão e carne. “Todos os dias eu vejo a atualizaçã­o do número de casos. O que assusta é às vezes você ver um vídeo ou até passar em locais turísticos como Central Park, Times Square ou Manhattan e ver tudo vazio”, contou Héber.

O volante Everton Luiz, do Real Salt Lake City, tem atenção extra com os dois filhos. Ele e a mulher cuidam para as crianças não ficarem abaladas com o isolamento. “Minha esposa se preocupou em manter o isolamento logo que os casos começaram a aumentar por aqui. Ela comunicou a escola que as crianças já estavam em quarentena antes mesmo de fecharem. Desde o começo nos preocupamo­s em falar para meus filhos o que está acontecend­o, sem alarme”, explicou.

Os brasileiro­s que atuam no futebol dos Estados Unidos têm feito treinos em casa orientados por vídeos feitos pelos próprios clubes. Trabalhos funcionais e na esteira são os mais utilizados. Quem mora por lá também elogia o cumpriment­o rigoroso do isolamento social.

“O governador do Estado (de Ohio, Mike DeWine) tomou atitude rápido e as coisas estão bem mais tranquilas. Ele já fechou comércio, escola e tentou evitar ao máximo a aglomeraçã­o”, comentou o volante Artur, do Colombus Crew. “Ainda não temos prazo para voltar a treinar nem jogar. Falaram que o campeonato voltaria dia 10 de maio, mas acho pouco provável. Não temos que ter pressa. O esporte fica em um segundo momento agora”, avaliou o jogador revelado pelo São Paulo.

O diretor de futebol André Zanotta, do Dallas, está em outra função esportiva durante a pandemia. O ex-dirigente do Grêmio tem atuado por videoconfe­rência na coordenaçã­o da equipe. Entre as tarefas, está a de organizar uma reunião todas as sextas-feiras com os jogadores como forma de manter o elenco unido e diminuir a angústia.

“É preciso ser criativo para manter os atletas ocupados. Buscamos convidados especiais para falar com eles. Já teve nutricioni­sta, o dono do time e devemos trazer um psicólogo”, contou Zanotta. O dirigente e demais representa­ntes de clubes da MLS têm discutido possíveis ações para o campeonato ser menos afetado. O brasileiro tem procurado ficar mais perto dos filhos, fazer cursos online e ajudar os dois compatriot­as que jogam no Dallas. O zagueiro Bressan, ex-Grêmio, será pai mês que vem, e o volante Thiago Santos, ex-Palmeiras, se mudou neste ano para os EUA e ainda está se adaptando ao país.

Héber

ATACANTE DO NEW YORK CITY

‘Assusta passar em locais como Central Park, Times Square ou Manhattan e ver tudo vazio’

 ?? EVERTON LUIZ/ACERVO PESSOAL ?? Atenção redobrada. Everton Luiz, do Real Salt Lake, com a filha Luna: esforço para que as crianças não fiquem abaladas
EVERTON LUIZ/ACERVO PESSOAL Atenção redobrada. Everton Luiz, do Real Salt Lake, com a filha Luna: esforço para que as crianças não fiquem abaladas

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