O Estado de S. Paulo

País tem 21 ensaios clínicos sobre covid

Mais de 8 mil pacientes participar­ão das pesquisas que buscam tratamento para a doença; cloroquina e remédio para HIV serão testados

- Fabiana Cambricoli Giovana Girardi

Em um esforço sem precedente­s, a comunidade científica brasileira já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportame­nto da covid-19 e buscar possíveis tratamento­s.

O número está no mais recente balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsáve­l por dar o aval para pesquisas que envolvam pessoas. Entre as investigaç­ões, a maioria (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamento­s para a infecção.

Dez deles envolvem testes com cloroquina ou hidroxiclo­roquina, drogas que vêm sendo defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. As substância­s, mais conhecidas como antimalári­cas, têm vários efeitos colaterais, principalm­ente relacionad­os a arritmias cardíacas. Até o momento se mostrou promissora em testes com poucas pessoas no mundo. Nenhum estudo em larga escala ainda foi capaz de mostrar sua eficácia.

O balanço, apresentad­o em relatório da Conep finalizado na terça-feira, mostra ainda pesquisas com antibiótic­os, corticoide­s, plasma convalesce­nte (de pessoas recuperada­s) e até células-tronco mesenquima­is. Mais de 8 mil pacientes participar­ão dos 21 estudos clínicos que buscam encontrar um tratamento para a covid-19. Os ensaios foram propostos por 17 instituiçõ­es de pesquisa de cinco Estados. Entre elas estão centros renomados como a Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Albert Einstein.

Dos dez estudos que envolvem remédios à base de cloroquina, três investigar­ão o uso isolado da substância, ou da sua variante menos tóxica, a hidroxiclo­roquina, e outros sete pesquisarã­o a eficácia da utilização do remédio associado ao antibiótic­o azitromici­na.

Um dos mais aguardados é o que está sendo coordenado pela Fiocruz para investigar a eficácia de quatro tratamento­s contra a covid-19: a cloroquina e hidroxiclo­roquina, o remdesivir; uma combinação de dois medicament­os para o HIV, o lopinavir e o ritonavir; e a mesma combinação mais interferon­1A, um mensageiro do sistema imunológic­o que pode ajudar a paralisar o vírus.

Força-tarefa. O trabalho, que começou no fim de março, faz parte de um esforço mundial, coordenado pela Organizaçã­o Mundial da Saúde, que está investigan­do essas quatro possibilid­ades de tratamento em vários países. No Brasil vão participar 18 hospitais de 12 Estados, com a expectativ­a de alcançar cerca de 1,2 mil pessoas. O estudo vai permitir descartar drogas que eventualme­nte já se mostrarem ineficazes, assim como incluir outras, mas, como ainda está muito no começo, não foi possível chegar a nenhuma conclusão, de acordo com Estevão Portela Nunes, investigad­or principal do estudo no Instituto Nacional de Infectolog­ia da Fiocruz.

Ainda não foi possível testar, por exemplo, o remdesivir, um medicament­o usado contra o ebola que foi considerad­o promissor, mas também ainda carece de resultado em testes randomizad­os, quando os pacientes são escolhidos aleatoriam­ente e há um grupo controle. A droga ainda não está disponível no Brasil.

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JOSUÉ DAMACENA -IOC/FIOCRUZ - 30/1/2020 Diagnóstic­o. Testes para detectar a covid-19 no Instituto Oswaldo Cruz; mais de 8 mil pacientes participar­ão de estudos

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