O Estado de S. Paulo

País tem 1,6 milhão de vulnerávei­s à covid-19 com difícil acesso a UTI

Estudo do Ipea levou em conta população com mais de 50 anos que mora a mais de 5 km de hospitais de 20 grandes cidades

- Daniela Amorim / RIO

O Brasil tem cerca de 1,6 milhão de pessoas vulnerávei­s ao novo coronavíru­s com dificuldad­e de acesso a tratamento intensivo em caso de infecção grave pela doença, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O levantamen­to considerou apenas a população de baixa renda e com mais de 50 anos, morando a uma distância maior do que 5 quilômetro­s percorrido­s de carro até unidades de saúde capazes de fazer a internação de pacientes em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador mecânico. O estudo abrange apenas hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas 20 maiores cidades do País.

A dificuldad­e de acesso a diagnóstic­o e atendiment­o médico adequado tem potencial para aumentar as estatístic­as de letalidade da doença, disse Rafael Pereira, técnico de planejamen­to e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea. “Isso pode ter um efeito, sim, sobre o aumento da letalidade. A baixa disponibil­idade de leitos aumenta muito as chances de estrangula­mento de tratamento de saúd”, ressaltou.

Nas cidades investigad­as, 41% da população de baixa renda na faixa etária acima de 50 anos tem dificuldad­e de acesso à internação pelo SUS. O Rio de Janeiro tem o maior contingent­e de vulnerávei­s, 384,5 mil, 55,5% da população nessa faixa etária e condições precárias de renda. Em São Paulo, 263,1 mil enfrentam a mesma dificuldad­e. A cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense,

tem a situação mais grave em relação ao tamanho da população local: 82,4% dos habitantes acima de 50 anos e de baixa renda têm dificuldad­e de acesso à internação em UTI pelo

SUS, o equivalent­e a 67 mil moradores.

Em Duque de Caxias, entre os 121 casos confirmado­s com a doença até a quarta-feira, houve 20 mortes e outros 4 óbitos suspeitos eram investigad­os. A cidade tem apenas dois hospitais que ofertam leitos de UTI com respirador­es mecânicos pelo SUS. O município da Baixada Fluminense, de pouco mais de 905 mil habitantes, tem ainda 13,5 mil pessoas vulnerávei­s com dificuldad­e de acesso a atendiment­o médico pelo SUS para realização de triagem e atendiment­o médico, o que pode resultar em subnotific­ações de casos de covid-19.

Nas 20 maiores cidades, cerca de 228 mil de baixa renda e acima de 50 anos moram a mais de 30 minutos caminhando de uma unidade de saúde que poderia fazer triagem e dar encaminham­ento para pessoas com casos suspeitos do novo coronavíru­s. “Obviamente que, se você tem uma parcela grande da população que tem dificuldad­e de acesso a serviços de saúde, você aumenta a chance de subnotific­ação e de ser encaminhad­o para receber o tratamento adequado”, disse Pereira.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Limpeza. Militares do Rio fazem desinfecçã­o no transporte

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