País tem 1,6 milhão de vulneráveis à covid-19 com difícil acesso a UTI
Estudo do Ipea levou em conta população com mais de 50 anos que mora a mais de 5 km de hospitais de 20 grandes cidades
O Brasil tem cerca de 1,6 milhão de pessoas vulneráveis ao novo coronavírus com dificuldade de acesso a tratamento intensivo em caso de infecção grave pela doença, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O levantamento considerou apenas a população de baixa renda e com mais de 50 anos, morando a uma distância maior do que 5 quilômetros percorridos de carro até unidades de saúde capazes de fazer a internação de pacientes em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador mecânico. O estudo abrange apenas hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas 20 maiores cidades do País.
A dificuldade de acesso a diagnóstico e atendimento médico adequado tem potencial para aumentar as estatísticas de letalidade da doença, disse Rafael Pereira, técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea. “Isso pode ter um efeito, sim, sobre o aumento da letalidade. A baixa disponibilidade de leitos aumenta muito as chances de estrangulamento de tratamento de saúd”, ressaltou.
Nas cidades investigadas, 41% da população de baixa renda na faixa etária acima de 50 anos tem dificuldade de acesso à internação pelo SUS. O Rio de Janeiro tem o maior contingente de vulneráveis, 384,5 mil, 55,5% da população nessa faixa etária e condições precárias de renda. Em São Paulo, 263,1 mil enfrentam a mesma dificuldade. A cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense,
tem a situação mais grave em relação ao tamanho da população local: 82,4% dos habitantes acima de 50 anos e de baixa renda têm dificuldade de acesso à internação em UTI pelo
SUS, o equivalente a 67 mil moradores.
Em Duque de Caxias, entre os 121 casos confirmados com a doença até a quarta-feira, houve 20 mortes e outros 4 óbitos suspeitos eram investigados. A cidade tem apenas dois hospitais que ofertam leitos de UTI com respiradores mecânicos pelo SUS. O município da Baixada Fluminense, de pouco mais de 905 mil habitantes, tem ainda 13,5 mil pessoas vulneráveis com dificuldade de acesso a atendimento médico pelo SUS para realização de triagem e atendimento médico, o que pode resultar em subnotificações de casos de covid-19.
Nas 20 maiores cidades, cerca de 228 mil de baixa renda e acima de 50 anos moram a mais de 30 minutos caminhando de uma unidade de saúde que poderia fazer triagem e dar encaminhamento para pessoas com casos suspeitos do novo coronavírus. “Obviamente que, se você tem uma parcela grande da população que tem dificuldade de acesso a serviços de saúde, você aumenta a chance de subnotificação e de ser encaminhado para receber o tratamento adequado”, disse Pereira.