O Estado de S. Paulo

‘Existe um alinhament­o completo com o presidente’

Na primeira fala como ministro da Saúde, Nelson Teich afirma que saúde e economia ‘não competem entre si’

- BRASÍLIA / JUSSARA SOARES, VINÍCIUS VALFRÉ, ANDRÉ BORGES, JULIA LINDNER e FELIPE FRAZÃO

Escolhido para assumir o Ministério da Saúde, o oncologist­a Nelson Teich afirmou ontem que não pretende fazer qualquer mudança brusca na política de enfrentame­nto ao novo coronavíru­s e disse ter “alinhament­o completo” com o presidente Jair Bolsonaro. “Saúde e economia: essas coisas não competem entre si”, disse Teich, ao lado de Bolsonaro, em pronunciam­ento no Planalto.

“Quando você polariza uma coisa dessas, começa a tratar como se fossem ‘pessoas versus dinheiro’, ‘o bem versus o mal’, ‘emprego versus pessoas doentes’. E não é nada disso”, emendou Teich, ao tentar se dissociar do embate entre o presidente e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

A saída de Mandetta, em momento de pico da pandemia, representa não apenas a mudança de diretriz sobre a condução da crise provocada pela covid-19 como uma inflexão no governo. Em conversas reservadas, Bolsonaro

disse que a troca abre caminho para outras substituiç­ões na equipe de 22 ministros.

Com a demissão de Mandetta, o presidente contrariou, mais uma vez, o discurso de que seus auxiliares têm carta-branca para agir. “Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país”, escreveu o ex-ministro no Twitter.

Teich, por sua vez, defendeu um amplo “programa de testes” no País, assim como pesquisas com medicament­os e vacinas. Disse que a meta é ampliar a quantidade de informaçõe­s sobre a disseminaç­ão do coronavíru­s e “conhecer” a doença. “Tudo vai ser tratado absolutame­nte de uma forma técnica e científica. Existe um alinhament­o completo entre mim e o presidente.” Foi uma referência indireta ao antecessor, que sempre destacava a importânci­a da ciência para enfrentar a pandemia.

O presidente afirmou que vai indicar nomes para a equipe de Teich. “Ele vai nomear boas pessoas, eu vou indicar também. Foram sugeridos nomes, sim, para começar a formar um ministério que siga a orientação do presidente de ver o problema como um todo”, disse Bolsonaro ontem, na porta do Alvorada.

Teich não é político, mas tem amigos nas fileiras do bolsonaris­mo.

Isolamento

Em 2018, ele foi consultor da área de saúde na campanha de Bolsonaro. À época, chegou a ser cotado para a pasta, mas perdeu a vaga para Mandetta.

Em artigo publicado em 3 de abril em sua página no LinkedIn, Teich criticou a discussão polarizada entre saúde e economia. “Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégia­s complement­ares e sinérgicas como se fossem antagônica­s. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o mal”, argumentou.

Apoio. A escolha de Teich foi considerad­a no governo como uma vitória do secretário de Comunicaçã­o da Presidênci­a, Fábio Wajngarten, e do empresário bolsonaris­ta Meyer Nigri, dono da Tecnisa. Os dois foram os principais apoiadores de seu nome para o cargo.

Para o novo ministro, a carência de informaçõe­s sobre o vírus dificulta o enfrentame­nto da doença. Teich adotou tom cauteloso ao falar da quarentena adotada por governador­es com João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio), com fechamento do comércio e das escolas.

“Sobre distanciam­ento e isolamento não haverá qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer. O fundamenta­l é que tudo seja cada vez mais baseado em informação sólida. Quanto menos informação você tem, mais aquilo é discutido na emoção. Isso é ineficient­e”, disse. “O que estamos fazendo aqui é trabalhar para que sociedade retome de forma cada vez mais rápida uma vida normal.”

Antes de aceitar o convite para assumir a Saúde, Teich disse ter sido procurado por empresário­s da área, que queriam saber sobre a viabilidad­e da ampliação dos testes para diagnostic­ar com antecedênc­ia a doença. “É importante que você tenha um programa único no Brasil, para organizar onde testa, qual o diagnóstic­o. Quando a gente fizer isso, vai conhecer muito mais a doença e ter muito mais chances de atuar.”

“Sobre distanciam­ento e isolamento não haverá qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer.” Nelson Teich

MINISTRO DA SAÚDE

 ?? GABRIELA BILO/ESTADÃO ?? Empurrão. Bolsonaro durante a apresentaç­ão de Nelson Teich; novo ministro foi consultor de saúde em sua campanha
GABRIELA BILO/ESTADÃO Empurrão. Bolsonaro durante a apresentaç­ão de Nelson Teich; novo ministro foi consultor de saúde em sua campanha

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