‘Existe um alinhamento completo com o presidente’
Na primeira fala como ministro da Saúde, Nelson Teich afirma que saúde e economia ‘não competem entre si’
Escolhido para assumir o Ministério da Saúde, o oncologista Nelson Teich afirmou ontem que não pretende fazer qualquer mudança brusca na política de enfrentamento ao novo coronavírus e disse ter “alinhamento completo” com o presidente Jair Bolsonaro. “Saúde e economia: essas coisas não competem entre si”, disse Teich, ao lado de Bolsonaro, em pronunciamento no Planalto.
“Quando você polariza uma coisa dessas, começa a tratar como se fossem ‘pessoas versus dinheiro’, ‘o bem versus o mal’, ‘emprego versus pessoas doentes’. E não é nada disso”, emendou Teich, ao tentar se dissociar do embate entre o presidente e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
A saída de Mandetta, em momento de pico da pandemia, representa não apenas a mudança de diretriz sobre a condução da crise provocada pela covid-19 como uma inflexão no governo. Em conversas reservadas, Bolsonaro
disse que a troca abre caminho para outras substituições na equipe de 22 ministros.
Com a demissão de Mandetta, o presidente contrariou, mais uma vez, o discurso de que seus auxiliares têm carta-branca para agir. “Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país”, escreveu o ex-ministro no Twitter.
Teich, por sua vez, defendeu um amplo “programa de testes” no País, assim como pesquisas com medicamentos e vacinas. Disse que a meta é ampliar a quantidade de informações sobre a disseminação do coronavírus e “conhecer” a doença. “Tudo vai ser tratado absolutamente de uma forma técnica e científica. Existe um alinhamento completo entre mim e o presidente.” Foi uma referência indireta ao antecessor, que sempre destacava a importância da ciência para enfrentar a pandemia.
O presidente afirmou que vai indicar nomes para a equipe de Teich. “Ele vai nomear boas pessoas, eu vou indicar também. Foram sugeridos nomes, sim, para começar a formar um ministério que siga a orientação do presidente de ver o problema como um todo”, disse Bolsonaro ontem, na porta do Alvorada.
Teich não é político, mas tem amigos nas fileiras do bolsonarismo.
Isolamento
Em 2018, ele foi consultor da área de saúde na campanha de Bolsonaro. À época, chegou a ser cotado para a pasta, mas perdeu a vaga para Mandetta.
Em artigo publicado em 3 de abril em sua página no LinkedIn, Teich criticou a discussão polarizada entre saúde e economia. “Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem antagônicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o mal”, argumentou.
Apoio. A escolha de Teich foi considerada no governo como uma vitória do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, e do empresário bolsonarista Meyer Nigri, dono da Tecnisa. Os dois foram os principais apoiadores de seu nome para o cargo.
Para o novo ministro, a carência de informações sobre o vírus dificulta o enfrentamento da doença. Teich adotou tom cauteloso ao falar da quarentena adotada por governadores com João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio), com fechamento do comércio e das escolas.
“Sobre distanciamento e isolamento não haverá qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer. O fundamental é que tudo seja cada vez mais baseado em informação sólida. Quanto menos informação você tem, mais aquilo é discutido na emoção. Isso é ineficiente”, disse. “O que estamos fazendo aqui é trabalhar para que sociedade retome de forma cada vez mais rápida uma vida normal.”
Antes de aceitar o convite para assumir a Saúde, Teich disse ter sido procurado por empresários da área, que queriam saber sobre a viabilidade da ampliação dos testes para diagnosticar com antecedência a doença. “É importante que você tenha um programa único no Brasil, para organizar onde testa, qual o diagnóstico. Quando a gente fizer isso, vai conhecer muito mais a doença e ter muito mais chances de atuar.”
“Sobre distanciamento e isolamento não haverá qualquer definição brusca ou radical do que vai acontecer.” Nelson Teich
MINISTRO DA SAÚDE