O Estado de S. Paulo

Walter Cintra Ferreira Junior

- Walter Cintra Ferreira Junior

• Teich terá de conciliar a visão obscura de Bolsonaro e a necessidad­e de tomar medidas efetivas.

Amissão do novo ministro da Saúde, o oncologist­a Nelson Teich, não será fácil: assumir o ministério no momento em que o pior da epidemia da covid-19 ainda está por vir e ter de conciliar o inconciliá­vel, que é a visão obscura de Bolsonaro da realidade e a necessidad­e de tomar medidas efetivas para a contenção da velocidade de transmissã­o do vírus.

Bolsonaro visivelmen­te tenso anunciou o “divórcio” com Luiz Henrique Mandetta e a nomeação de Teich, ao mesmo tempo em que prometeu debitar da conta dos governador­es as consequênc­ias econômicas das medidas de distanciam­ento social.

Teich, que não tem experiênci­a no SUS, enfatizou que não deve existir conflito entre Saúde e Economia, que sua ação será baseada na ciência e que não haverá mudanças bruscas nas orientaçõe­s sobre o distanciam­ento social.

O novo ministro disse que é preciso coletar dados e produzir informaçõe­s para tomar as medidas necessária­s. Afirmou que pretende implementa­r um programa de testes para definir os melhores tratamento­s e ações para o combate à epidemia e encerrou o seu discurso dizendo estar em completo alinhament­o com o presidente.

Alguém terá de avisar ao novo ministro que numa situação de crise sanitária as decisões técnicas são tomadas com informaçõe­s disponívei­s e por isso é que se ouvem cientistas, entidades como a Organizaçã­o Mundial da Saúde e, principalm­ente, olha-se para a experiênci­a dos países que já estão enfrentand­o a epidemia há mais tempo. Era o que corretamen­te Mandetta estava fazendo. Resta saber qual será a reação de Teich quando o Bolsonaro voltar a afrontar a ciência, a razão e a paciência dos eleitores.

É MÉDICO SANITARIST­A, PROFESSOR DE GESTÃO EM SAÚDE DA FGV-SP

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