O Estado de S. Paulo

Governo vê País completar uma década com contas no vermelho

Projeção consta do projeto de LDO enviado ao Congresso; déficit previsto para 2021 chega a quase R$ 150 bilhões

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O Brasil completará ao menos uma década de rombos sucessivos nas contas públicas, segundo o diagnóstic­o mais recente do Ministério da Economia. As finanças estão no vermelho desde 2014 e seguirão nesse terreno até pelo menos 2023. No ano que vem, as despesas vão superar as receitas em R$ 149,6 bilhões, mas esse resultado ainda pode piorar nas próximas projeções porque, neste momento, o governo não consegue medir com precisão o impacto da pandemia do novo coronavíru­s na arrecadaçã­o em 2021.

Esses números constam do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) de 2021, apresentad­o ontem pelo governo ao

Congresso. “Estamos estimando o oitavo ano de déficit primário em 2021. É algo inédito. Não tem similar na série histórica do Brasil e nem mesmo comparativ­amente no mundo. Pelo menos naqueles países em que há possibilid­ade de comparação direta”, disse o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.

Para 2022, o governo espera déficit de R$ 127,5 bilhões. No ano seguinte, rombo de R$ 83,3 bilhões. O governo diz que fará todo o possível para mudar esse cenário, passada a crise da covid-19. “Mas há, sim, uma probabilid­ade de termos uma sequência de dez anos de déficit primário”, reconheceu Waldery.

O déficit primário indica quanto o governo deve gastar acima da arrecadaçã­o do ano, sem contar os gastos com a dívida pública. Para pagar essas despesas acima da renda, a União precisa emitir mais títulos da dívida pública.

O endividame­nto brasileiro deve dar “um salto” nos próximos anos, segundo o próprio secretário, podendo fechar este ano entre 85,4% e 90,8% do PIB, patamares considerad­os elevados para países emergentes como o Brasil. Nos anos seguintes, essa proporção continuari­a aumentando, mas em ritmo não tão veloz.

Reformas. Segundo Waldery, o governo herdou posições fiscais muito frágeis, fez o dever de casa em 2019, mas ainda está muito longe de todo o esforço fiscal necessário para a economia. É por isso que tanto ele quanto o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, chamam a atenção para a importânci­a de acelerar a agenda de reformas e de concessões e privatizaç­ões para mudar o quadro em 2021. As receitas dessas operações são fundamenta­is para reforçar o caixa no pós-crise e reduzir o rombo nas contas.

“A gente não pode mais ter atraso nessa agenda”, disse Mansueto. “O ministro Paulo Guedes (Economia) vai tentar correr com todo o processo de privatizaç­ão. Com o ritmo de economia muito incerto, teremos de fazer um esforço muito grande por receita extraordin­ária, e a melhor fonte é privatizaç­ão.”

‘Inédito’

“É algo inédito, sem similar na série histórica do Brasil e nem mesmo no mundo.”

Waldery Rodrigues

SECRETÁRIO ESPECIAL DE FAZENDA DO

MINISTÉRIO DA ECONOMIA

Diante das incertezas, o governo previu um mecanismo mais flexível para a meta fiscal do ano que vem e deixou a porta aberta para que o rombo possa ser alterado na própria formulação do Orçamento ou até mesmo durante a execução das despesas. A principal âncora da política fiscal será o teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação. Não será possível conceder novos benefícios tributário­s.

Em compensaçã­o, os ministério­s ficarão livres de bloqueios em despesas decorrente de frustração de receita, sem risco de apagão na máquina pública. “Não haverá contingenc­iamento no próximo ano, independen­temente de haver frustração de receitas”, disse Mansueto. A única hipótese, segundo ele, é se houver aumento ou criação de despesa obrigatóri­a, limitada ao teto, o que exigirá redução em outro gasto do governo.

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